Título: Bancos oficiais do País são usados em integração
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/09/2005, Nacional, p. A10
Há dez dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva surpreendeu ao declarar que seu governo, valendo-se do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), promoveria a integração sul-americana que o general Simon Bolívar (1783-1830) pretendera 'com a espada'. A declaração, entretanto, não é totalmente verdadeira nem pode ser considerada iniciativa plena de sua gestão. O presidente esqueceu-se do Banco do Brasil, outra instituição que vem alavancando a execução de projetos na vizinhança por empresas brasileiras. Além disso, omitiu o fato de que esse modelo começou a ser desenhado no governo de seu antecessor. Nesta segunda-feira, o presidente Lula desembarca na Cidade da Guatemala para uma visita oficial de dois dias. Segundo o Itamaraty, levará consigo um projeto de criação de uma linha de financiamento do BNDES para os investimentos de empresas brasileiras nos países do Sistema de Integração Centro-Americana (Guatemala, El Salvador, Honduras e Nicarágua).
Mas a linha para o Sica, informou BNDES, não existe. O que há, sim, é possibilidade de investidores brasileiros recorrerem à nova linha de internacionalização de empresas, desde que seus projetos contribuam para promover as exportações brasileiras.
Na última quinta-feira, em Puerto Maldonado, no Peru, o presidente lançou a pedra fundamental da rodovia que finalmente abrirá a saída para o Brasil ao Oceano Pacífico. Entretanto, o projeto não traz o financiamento do BNDES, como havia anunciado o presidente no seu discurso do dia 1º. O crédito de US$ 700 milhões que o tornará realidade partiu do Programa de Financiamento das Exportações (Proex), do Banco do Brasil.
INTEGRAÇÃO
Mesmo com esses deslizes, o presidente poderá celebrar com alarde a ação integradora mais eficiente das duas principais instituições financeiras do governo brasileiro que as do general Bolívar, o libertador de cinco países sul-americanos que morreu deprimido, pobre e no exílio e que se converteu em ídolo de Hugo Chávez, presidente da Venezuela.
Nos próximos dias 29 e 30, o presidente deverá receber em Brasília boa parte de seus colegas da região na 1ª Reunião de Cúpula da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), uma versão do projeto lançado pelo seu antecessor, em 2000, com o objetivo de unir os esforços dos 12 países na integração física do continente.
De fato, o presidente terá dados para consolidar sua ambição de liderar a região - algo que se tornou menos estridente nos seus últimos discursos. O BNDES reservou parte de suas linhas de financiamento às exportações ao filão da alavancagem da venda de produtos e de serviços para a construção de obras de infra-estrutura nos vizinhos da América do Sul.
Esse segmento foi acomodado em uma carteira especial do banco, que destinará US$ 2,612 bilhões para o financiamento de 20 projetos de infra-estrutura em alguns países - Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
Somente em 2005, a Carteira da América do Sul do BNDES deverá liberar US$ 400 milhões para oito projetos em cinco vizinhos. Para cuidar desse filão, o BNDES criou o Departamento de Integração da América do Sul e montou o mecanismo especial de financiamento que beneficiará a produção e a balança comercial brasileiras - assim como os países onde as obras serão executadas.
'O BNDES não financia o importador. Os recursos são desembolsados, em reais, para o exportador aqui no Brasil', explicou Luiz Antonio Dantas, superintendente da área de comércio exterior da instituição.
MODELO
O Banco do Brasil segue o mesmo modelo em suas duas linhas do Proex. A de financiamento vai permitir que nove projetos de infra-estrutura em cinco países - Bolívia, Equador, Peru, República Dominicana e Venezuela - saiam do papel. Jun
O BNDES deve liberar US$ 2,612 bilhões para o financiamento de 20 projetos no exterior
tos, eles envolvem o investimento de US$ 1,936 bilhão e permitirão a exportação de US$ 1,547 bilhão em bens e serviços brasileiros para a execução. Os desembolsos do ProexFinanciamento deverão chegar a US$ 1,315 bilhão.
PROJETOS
Com a modalidade de equalização de taxa de juros, o Banco do Brasil tornará possível o acesso de vários projetos às linhas do Proex e do BNDES. A rigor, trata-se de um mecanismo de subsídio - o Proex-Equalização cobre a diferença de custo do financiamento de uma exportação brasileira gerada pelo chamado Custo Brasil.
Atualmente, 13 projetos em seis países (Chile, Equador, Paraguai, República Dominicana, Uruguai e Venezuela) esperam a autorização dos desembolsos, que somarão cerca de US$ 125 milhões. No total, esse subsídio deverá alavancar US$ 1,755 bilhão em exportações de bens e também de serviços do Brasil.