Título: Armas doadas caem na mão de ladrão
Autor: Lígia Formenti e José Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2005, Metrópole, p. C6

O desvio de 83 armas que haviam sido doadas para a campanha de desarmamento roubou a cena de uma cerimônia em Brasília para comemorar a redução de mortes provocadas por armas de fogo. O secretárioexecutivo do Ministério da Justiça, Luis Teles Barreto, classificou o fato como 'um episódio isolado'. Ele afirmou que uma pessoa já está presa e, nos próximos dias, o caso será resolvido. Barreto disse que, ao longo dos dois últimos anos, houve maior dificuldade de acesso a armas de fogo e, por isso, o crime organizado estaria recorrendo a outros fornecedores.

Para o pesquisador da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Júlio Jacobo, no entanto, o episódio é preocupante. 'O número de armas que foi desviado é pequeno. Mesmo assim, é preciso fazer uma investigação exemplar, para evitar episódios semelhantes.'

A Polícia Federal investiga o paradeiro das armas, que foram doadas em Santos. A operação foi deflagrada em junho, quando um menor foi preso portando uma arma doada para a campanha. 'Verificamos irregularidades em registros de 83 das 5.600 armas recolhidas em Santos', disse o delegado da PF José Roberto da Hora.

A estimativa é de que outras 11 estejam nas mãos de bandidos. Desde que as investigações começaram, uma pessoa teve prisão temporária decretada. Mas, logo em seguida, foi solta, por falta de provas. Da Hora afirmou não saber quanto tempo vai demorar para que o inquérito seja concluído.

Desde anteontem, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) veicula em emissoras de rádio e TV uma campanha sobre como participar do referendo das armas. Além de explicar o funcionamento da urna, os spots, que seguem até o dia 23, destacam o que representam as alternativas 'sim' e 'não'.

MANIFESTAÇÕES

A exemplo de grupos em outras cidades brasileiras, cerca de 50 integrantes da ONG Viva Rio e simpatizantes da causa do desarmamento participaram ontem de um ato em comemoração à queda do número de mortes por armas de fogo no País. O movimento atribui às 420 mil armas recolhidas na campanha do desarmamento a redução de 8,2% no número de mortes por armas de fogo no País em 2004.

Para o Ministério da Saúde, 3.324 vidas foram poupadas. Partidários do 'não', porém, contestaram os dados do Ministério da Saúde, alegando que eles não batem com os das Secretarias de Segurança Pública.

Em São Paulo, um ato promovido pelo Instituto Sou da Paz reuniu ontem cerca de 350 pessoas no Vale do Anhangabaú, por volta do meio-dia, para comemorar a redução das mortes por armas de fogo.