Título: AIE avisa que preço do petróleo ainda é incerto
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

A Agência Internacional de Energia (AIE) alertou ontem que a incerteza sobre os preços do petróleo deverá continuar pelo menos no curto prazo. Em seu relatório mensal, a entidade observa que vários fatores poderão contribuir para elevar ainda mais o preço. Um deles é o reforço dos estoques dos consumidores, em razão do temor de desabastecimento. Em compensação, a AIE apresenta um crescente conjunto de indicadores com potencial de reduzir os preços no futuro. A agência reduziu em 250 mil barris diários a previsão de aumento da demanda de petróleo este ano, para 1,35 milhões de barris diários. China, Índia e o restante da Ásia foram responsáveis por 68% dessa redução.

Segundo cálculos da AIE, o furacão Katrina causou uma perda potencial de 38 milhões de barris de derivados em setembro e até 70 milhões de barris de petróleo cru e gás líquido até o início de 2006. A agência observa que os riscos para uma alta ainda maior no curto prazo não se limitam aos furacões no Caribe.

'Questões geopolíticas, como o terrorismo, eleições no Irã e a situação política no Iraque e na Nigéria também preocupam.' A estatísticas, informa a AIE, mostram que o temor do desconhecido e o conseqüente desejo de fazer compras futuras de petróleo está por trás dos preços elevados. 'Mas, enquanto os preços se movem para cima, os estoques e a capacidade ociosa também aumentam.

Por isso, não se pode ignorar que os riscos de queda nos preços vão emergir.' As projeções da AIE indicam que o crescimento de 1,75 milhão de barris no consumo diário em 2006 deverá ser compensado por um pequeno aumento na produção dos países não integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Com isso, o cenário para 2006 será muito similar ao de 2005, mas com modesto crescimento na capacidade de produção e nos estoques. A agência observa que outros fatores não podem ser desprezados. 'As restrições dos preços dos combustíveis na China estão desestimulando a maximização da produção nas refinarias e empresas utilitárias do país, inibindo a demanda', disse.

'Qualquer liberação nesses mercados tem o potencial de aumentar a demanda doméstica por petróleo, mas até agora não há sinais de que isso possa ocorrer.' Segundo a agência, indicadores preliminares sugerem consumo mais fraco na China no início do terceiro trimestre.

Do lado da oferta, a produção futura da Yukos continua incerta, mas há o potencial de aumentos de produção em outras companhias russas. Em outros países, vários novos empreendimentos ou expansões na produção deverão ocorrer até o fim deste ano e em 2006.

No entanto, esses acréscimos na oferta precisam ser vistos com cautela, pois podem ser afetados por problemas técnicos, políticos ou desastres naturais.

Os mais recentes números sobre os estoques também sinalizam maior equilíbrio nos mercados. Os estoques comerciais dos países da OCDE em abril e maio estão aumentando em 1,8 milhões de barris diários, duas vezes mais que a média dos últimos cinco anos.

Além disso, há sinais de que as compras de petróleo foram adiantadas porque as refinarias dos Estados Unidos estocaram petróleo leve antes da temporada de manutenção do segundo semestre.

Para a AIE, apesar de esses fatores sinalizarem um cenário mais tranqüilo, os mercados não deverão se acalmar imediatamente. 'Com que preço a Opep está preparada para abastecer os mercados? O dano causado pelo furacão Ivan no ano passado se repetirá?', indaga a agência.