Título: Confiança na economia brasileira será testada no BIS
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2005, Economia & Negócios, p. B6

Diante da crise política, a credibilidade da economia brasileira será testada neste fim de semana na Basiléia, Suíça. O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, participa das reuniões no Banco de Compensações Internacionais (BIS) com os xerifes das finanças mundiais, incluindo a direção do Federal Reserve Bank (Fed), dos Estados Unidos, e do Banco Central Europeu (BCE). Os primeiros encontros informais serão realizados amanhã e a principal reunião está marcada para segunda-feira, quando Meirelles participa, como convidado, do encontro com os dez maiores bancos centrais do mundo para avaliar o cenário internacional.

Há uma semana, o BIS afirmou que os bons fundamentos da economia brasileira criaram uma blindagem contra a crise política. 'A incerteza política fez com que os spreads sobre a dívida brasileira descolassem dos spreads cobrados sobre os mercados emergentes em geral no fim de julho e no final de agosto (ficaram mais altos)', informou o BIS.

'Entretanto, de forma geral, os investidores não parecem estar muito preocupados com as dificuldades do governo.' O banco lembra que, em julho, os investidores estavam 'tão receptivos' aos títulos da dívida brasileira que o governo pôde retirar a maior parte de seus C-bonds que restavam nos mercados.

Meirelles também insiste desde o ano passado que o Brasil deixou de ser motivo de preocupação dos xerifes das finanças e que a situação do País não é mais razão de debates apreensivos entre os banqueiros nas reuniões na Basiléia. O presidente do BCE, Jean Claude Trichet, já elogiou publicamente a política monetária e fiscal do País, mas sempre pediu que a atenção não fosse reduzida.

Desde a última vez que esteve na Basiléia, no fim do primeiro semestre, Meirelles já foi consultado de forma informal se política monetária seria mantida, ainda que houvesse uma mudança na composição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Hoje, a curiosidade não é tanto sobre a política macroeconômica, que já mostrou que deve ser mantida, mas sobre o clima institucional no País. Há quem acredite, na Europa, que, se a crise política se prolongar no Brasil, a confiança do mercado pode começar a cair.

'Temos que ter um ambiente tranqüilo no País para investir', disse um alto executivo da Nestlé. A empresa não está revendo seus planos para o Brasil, mas admite que os problemas de corrupção fazem os executivos em geral 'pensar bem antes de tomarem decisões sobre o Brasil'.