Título: Severino antecipa volta ao Brasil e admite se licenciar do cargo
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2005, Nacional, p. A4

Depois de passar quatro dias em Nova York, na 2.ª Conferência Mundial de Presidentes de Parlamentos, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), decidiu antecipar sua volta - embarcaria às 22h20 (horário local), com chegada a São Paulo prevista para 8h40 (horário de Brasília) de hoje. E pela primeira vez admitiu que pode licenciar-se do cargo para que sejam investigadas as denúncias contra ele. Mas um parlamentar brasileiro que se encontra em Nova York disse ao Estado que, na verdade, o pedido de licença já está decidido.

Severino teria tomado a decisão depois de intensas negociações, iniciadas na quinta-feira à noite. Ontem cedo, teria avisado seu substituto, o vice-presidente da Casa, José Thomaz Nonô (PFL-AL). 'Nonô já foi informado, mas o anúncio formal será feito por Severino segundafeira', disse o parlamentar.

Também pela primeira vez Severino admitiu que pode ter errado, embora insista em que a denúncia é falsa - o empresário Sebastião Augusto Buani o acusa de cobrar propina em troca de prorrogar a concessão de um de seus restaurantes na Câmara.

O deputado fez quase um mea-culpa: 'Quem deve alguma coisa que pague. Eu não vou ficar como inocente, se fiz alguma coisa pela qual deva ser castigado. O que não aceito é ser enforcado antes do tempo.' Não disse, porém, quem estaria interessado em sua saída. 'Eu não posso adivinhar e não estou aqui para denunciar ninguém.'

Abatido, Severino deu a entrevista na missão brasileira na ONU. Reafirmou que não vai renunciar ao mandato, mas deixou a porta aberta para um pedido de licença: 'É uma questão que quando chegar ao Brasil informarei.' Diante da insistência dos jornalistas, diferenciou. 'Renúncia não existe. (A licença) vou conversar com meus auxiliares, quando tomarei conhecimento das denúncias. Conversarei tão logo chegue', disse.

Sobre o documento que teria assinado prorrogando a concessão do restaurante de Buani, Severino primeiro foi taxativo: 'Não assinei o documento.' Depois, recuou. 'Acredito que é falso . Não estou vendo o documento, eu estou aqui', afirmou.

'Quero dizer da minha indignação, minha revolta com a maneira como o episódio está sendo conduzido. É um desastre. O Brasil constatou que as afirmações dele (Buani) são mentirosas. Ele deu três declarações, uma diferente da outra.' Severino afirmou que sempre agiu 'como homem correto e sério' em 42 anos de vida pública.

'Não se justifica, agora com 73 anos, que venha um indivíduo sem a classificação necessária me fazer afirmações sem provas.' Quanto ao cheque que Buani teria como prova da propina paga, Severino desafiou-o: 'Ele que apresente o cheque. Eu indiquei a Polícia Federal , o Tribunal de Contas da União para que investigassem (se existia alguma irregularidade) e até uma comissão da diretoria da Câmara , onde ele (Buani) declarou que não tem nada contra mim.'

Ao lembrar que Ciro Nogueira (PP-PI), corregedor da Câmara e seu afilhado político, se disse chocado com a denúncia, Severino deu explicação peculiar: 'Ciro tem de cumprir com seu dever. Foi chocante porque a mentira choca todo mundo.'