Título: Três funcionários de Buani confirmam entrega de propina
Autor: Luciana Nunes Leal e Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2005, Nacional, p. A10

Com salários que variam de R$ 800 a R$ 1.200, três funcionários do restaurante Fiorella, de Sebastião Buani, levavam em poucos minutos ao gabinete do deputado Severino Cavalcanti, em dinheiro vivo, muito mais do que ganham em um mês de trabalho. Eles não sabiam o valor que carregavam, mas tinham conhecimento de que era dinheiro. A entrega era feita a mando da gerente financeira do Fiorella, Gisele Buani, filha do empresário. Ontem, o atendente Rosenildo Francisco Soares, de 26 anos, o garçom Hélio Antônio da Silva, de 44 anos, e o maître Ribamar Silva, de 59, confirmaram que levaram envelopes de dinheiro, ao longo de 2003, ao gabinete da Segunda-Secretaria, posto ocupado por Severino naquele ano. 'A gente não sabia para quem era. A gerente Gisele sempre avisava para ter cuidado, porque no envelope tinha dinheiro. Não sei quanto. Entreguei uma vez para uma secretária loura e duas vezes para uma morena. Chegava lá e dizia que era do Fiorella', contou Hélio. Buani disse que os R$ 10 mil mensais nunca eram pagos de uma só vez, mas em parcelas que variavam de R$ 3 mil a R$ 5 mil. Hélio fez três entregas de envelopes com dinheiro na Segunda-Secretaria, mas não soube dizer as datas. Ribamar contou que foi duas vezes e Rosenildo, uma vez. Em outras ocasiões, segundo Buani, o dinheiro foi entregue diretamente pelo empresário ao deputado. Com 30 anos de trabalho em restaurantes da Câmara dos Deputados, o piauiense Ribamar Silva disse que é amigo de muitos deputados e senadores, inclusive de Severino Cavalcanti. 'Conheço os gostos de cada um. O Severino é nordestino, come de tudo, não dá trabalho. Sempre tratou bem, dá gorjeta. Eu não esperava por isso', comentou Ribamar ontem, em entrevista no Iate Clube. Está preocupado com a mulher, os filhos e netos. 'Eles ficam nervosos, mas, se eu tiver que depor na polícia, não tem jeito, tenho que ir. Somos empregados, cumpríamos as ordens da empresa', disse o maître. Ribamar contou que, quando seu nome foi citado como um dos entregadores do dinheiro, recebeu vários telefonemas de parlamentares. 'Eles disseram: ´Não esquenta, diga a verdade.´ Alguns são amigos de muitos anos', afirmou Ribamar. O mineiro Hélio não dorme desde que estourou o escândalo. Tem 25 anos de trabalho na Câmara. 'Pelo andar da carruagem, vou ter que voltar para a roça', lamentou, depois de elogiar o patrão Buani. 'A gente tem nele um amigo. Tenho em Deus que esse documento que o seu Buani precisa está lá no banco', disse, referindo-se ao cheque dado pelo empresário a Severino que pode ser a prova definitiva contra o presidente da Câmara. Rosenildo, alagoano com sete anos de trabalho na Câmara e no Senado, contou que levou um envelope grampeado e não tinha como calcular o valor que carregava. 'Entreguei para uma secretária loura e fui embora', contou. Os três empregados dizem que jamais tinham ouvido falar em pagamento de propina para manter o funcionamento dos restaurantes. Estão inconformados com a atitude do ex-gerente Izeílton Carvalho, responsável pela denúncia do pagamento da propina. 'Ele foi covarde, poderia pelo menos ter avisado a gente que ia falar', protestou Hélio.