Título: Mais de 150 processos e nenhuma condenação definitiva até hoje
Autor: Fausto Macedo e Marcos Rogério Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/09/2005, Nacional, p. A17

O empresário e político Paulo Salim Maluf, 74 anos, que enfrentou mais de 150 processos e até agora não sofreu nenhuma condenação definitiva, poderia alegar em sua defesa que nasceu rico e não precisaria roubar. Dono de um patrimônio que, conforme declarou na Justiça Eleitoral, chegava a pelo menos R$ 74,9 milhões em 2000, herdou fortuna do avô, o imigrante libanês Miguel Estéfano, que começou mascate e acabou bilionário. Quando o patriarca morreu, deixando imóveis no Guarujá e uma empresa próspera, a Serraria Americana, futura Eucatex, sua filha Maria Estéfano Maluf assumiu os negócios. Entregou a direção para Roberto, o filho mais velho, então com 16 anos, mas não abriu mão do comando. Continuou mandando, enquanto Paulo, o herdeiro predileto, se matriculava na Escola Politécnica da USP, onde se formou engenheiro. Paulo estudou antes no Colégio São Luís, dos padres jesuítas.

Enquanto os colegas iam para o São Luís a pé ou de bonde, Maluf chegava à Avenida Paulista em carro de luxo. Ali nasceu sua paixão por carro esporte e de velocidade.

Formado em 1954, Paulo Maluf se casou dois anos depois com Sylvia Lutfalla, de família ainda mais rica que a sua, com quem teve quatro filhos - Lina, Lygia, Flávio e Otávio. É avô de 13 netos.O filho do imigrante Salim Farah Maluf se orgulha de sempre ter trabalhado muito.

Foi também herança da tradição libanesa o cardápio servido na mesa, de comida árabe e vinho importado. Membro da Confraria Santo Colomba, Maluf e seus confrades degustam marcas francesas de alta qualidade, sem concessões ao bolso. O anfitrião, revela um de seus comensais, já encomendou caixas de vinho de US$ 600 a garrafa para servir aos convidados.

Foi prefeito duas vezes. A primeira, de 1969 a 1971, nomeado pelo governo militar. Deixou o cargo para ser secretário estadual dos Transportes e, quatro anos depois, presidente da Associação Comercial de São Paulo. A segunda, de 1992 a 1997, eleito pelo voto direto, depois de ter perdido, em 1986 e em 1990, as eleições para governador do Estado.

COLÉGIO ELEITORAL

Em 1985, Maluf se candidatou a presidente da República e foi derrotado, no Colégio Eleitoral, por Tancredo Neves. Apesar da derrota, sempre se vangloriou de ter contribuído, com sua candidatura, para a redemocratização do País, uma vez que enfrentou, na convenção da Arena, partido do governo, a imposição do nome do ex-ministro dos Transportes Mário Andreazza.

O ex-prefeito se gaba igualmente de ter enfrentado a ditadura em 1979, quando conseguiu derrubar o candidato oficial dos generais e se eleger, ainda que pelo voto indireto, na Assembléia Legislativa, governador de São Paulo.

Para quem dizia que ele não tinha apoio popular - das nove eleições diretas que disputou, só ganhou duas -, Maluf lembra sua vitória para a Câmara dos Deputados, em 1982, com 672.729 votos. O empresário e político que entrou na vida pública em 1967, ao ser nomeado presidente da Caixa Econômica Federal pelo governo militar, sempre andou às voltas com suspeitas de irregularidades e corrupção. 'Nunca fui condenado', defende-se Maluf, enquanto seus advogados recorrem aos tribunais superiores para derrubar sentenças contrárias.

No caso dos Fuscas com que o então prefeito de São Paulo presenteou os campeões brasileiros da Copa de 70, Maluf foi inocentado 32 anos depois. As denúncias de improbidade administrativa se multiplicaram quando ele deixou a Prefeitura.

m 1998, havia mais de 100 processos. Entre as denúncias mais recentes, a suspeita de que enviou milhões de dólares para a Suíça e para o paraíso fiscal da Ilha de Jersey. 'Nada provado', disse na época Ricardo Tosto, sócio de um escritório de 60 advogados contratado por Maluf para sua defesa.

Tosto lembrou, entre outras denúncias, a alegação de que o exprefeito havia desviado recursos públicos na construção do Túnel Ayrton Senna e do Complexo do Córrego Água Espraiada, com valores que variavam entre US$ 300 milhões e US$ 1 bilhão.

Uma declaração que pesou na carreira de Maluf foi o apelo da campanha de 1996. 'Se Celso Pitta não foi um bom prefeito, não votem mais em mim', repetiu no palanque, a conselho do marqueteiro Duda Mendonça. 'Pitta me derrotou em 1998 (eleições para o governo do Estado) com seqüelas em 2000 (na derrota para Marta Suplicy na campanha municipal)', se penitenciaria Maluf mais tarde.

Aos 74 anos, Maluf - o político que costumava dizer 'não sou candidato a nada, sou candidato a tudo - parece não planejar mais ser presidente da República, a meta de sua vida. 'Sou pragmático e, se tinha esse sonho, a realidade me indicou outro caminho', declarou em junho de 2002, quando disputava o governo estadual.

Questão de oportunidade e hora, pois Paulo Salim Maluf, o eterno candidato, sempre pode mudar de idéia.