Título: Consumo terá reforço de R$ 18 bi
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

O consumo deve receber uma injeção extra de R$ 18 bilhões no último trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2004, só com o aumento da massa salarial, sem contar com o impulso do crédito. Entre outubro e dezembro, a massa salarial - o rendimento do trabalho obtido pelo total do pessoal ocupado na economia - pode chegar a R$ 210 bilhões, ante R$ 192 bilhões no último trimestre do ano passado, segundo estudo da MSConsult. O comércio, no entanto, continua cauteloso. Isoladamente, algumas lojas admitem esse cenário favorável, mas querem ter a certeza de que as vendas vão reagir antes de dar sinal verde a um volume maior de pedidos.

Ainda na ressaca das vendas fracas de agosto e deste mês, o varejo não iniciou as contratações de funcionários temporários de fim de ano, afirma o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah.

Apesar da cautela do comércio, está se desenhando um cenário favorável para o fim de ano, com a inflação e os juros em queda, além dos reajustes salariais na faixa de 7% superiores à expectativa de inflação para os próximos meses, que aumentam o poder de compra do consumidor.

"Vamos ter dois Natais consecutivos com crescimento de produção e de vendas, algo que não ocorria deste 1997", prevê o economista Fábio Silveira, sócio da MSConsult.

O estudo da consultoria sobre as projeções da massa salarial para o último trimestre já inclui o 13º salário e foi feito a partir dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para as seis Regiões Metropolitanas mais importantes e estimada para a população ocupada do País.

As hipóteses que sustentam os números são conservadoras. Isto é, levam em conta um crescimento médio mensal de 2% para o pessoal ocupado até dezembro e o salário nominal aumentando 7% ao mês no mesmo período. As duas taxas são inferiores à média de janeiro a julho deste ano.

"Não se trata de explosão de consumo", pondera o economista. Mas ele ressalta que o cenário atual é o inverso ao do ano passado. Em setembro de 2004, os juros começaram a subir e a política monetária iniciava uma fase restritiva. Os índices mensais de inflação ao consumidor em 2004 estavam em níveis superiores aos atuais e não havia a mínima possibilidade de deflação. Além disso, o aumento real da massa de salários de 3,5% no ano passado inteiro foi sustentado pelo aumento do número de pessoas ocupadas, que teve um acréscimo de 3,9% em 2004, já que o rendimento real caiu 0,4% no período.

QUALIDADE

Para este ano, o crescimento da massa salarial é de melhor qualidade, observa Silveira. Isso porque o rendimento real dos trabalhadores voltou a aumentar. Nas suas projeções, a massa real de salários em 2005 se expande 4,3% de janeiro a dezembro, com acréscimo de 3,3% no pessoal ocupado e de 1% no rendimento real.

"Desde 2000 o rendimento real não crescia 1%", diz o economista. Para ele, esse é um resultado importante, pois em dois anos a massa real de salários acumula acréscimo de cerca de 8%. "Isso só tinha ocorrido nos primeiros anos do Plano Real", diz Silveira.

Para o último trimestre, a projeção é de que a massa salarial tenha crescimento real de 3,5% ante o mesmo período de 2004, com aumento de 2% no pessoal ocupado e de 1,5% no rendimento real. Segundo Silveira, "a novidade é que a taxa de crescimento do rendimento real no último trimestre deve superar a média do ano inteiro, de 1%, por causa dos reajustes salariais em curso e pelo fato de a inflação presente e futura estar em níveis baixos."

Essa melhor qualidade do crescimento da massa salarial propiciada pelo aumento dos rendimentos dos trabalhadores deve ter impacto positivo não apenas no fim de ano. "Vamos ingressar em 2006 com um quadro bem favorável", prevê Silveira.