Título: Importação deve atingir US$ 100 bi em 2007, diz Ipea
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2005, Economia & Negócios, p. B5

RIO - Depois de atingir os US$ 100 bilhões nas exportações, o País caminha rapidamente para alcançar o mesmo volume de importações. Projeção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que já em 2006 o valor chegará perto de US$ 94 bilhões e, segundo especialistas, os três dígitos serão alcançados em 2007. E no ano que vem, pela primeira vez na história, a corrente de comércio (soma de exportações e importações) vai ultrapassar a barreira recorde de US$ 200 bilhões. As estimativas do Ipea apontam que em 2006 as compras brasileiras ficarão em US$ 93,9 bilhões, quase o dobro (99%) do valor em 2002, de US$ 47,2 bilhões. No mesmo período, as exportações avançarão 105%, de US$ 60,4 bilhões para US$ 123,7 bilhões. Com isso, a corrente do País com o exterior, ainda segundo o Ipea, somará US$ 217,6 bilhões no ano que vem.

Para chegar aos US$ 100 bilhões, basta as importações crescerem 6% em 2007, o que provavelmente deverá acontecer, avalia o economista do Ipea Marcelo Nonnemberg. Segundo ele, o novo patamar representa apenas "um número", mas ter exportações e importações maiores eleva o peso do comércio exterior no Produto Interno Bruto (PIB), o que reduz a volatilidade cambial no País.

De forma geral, especialistas em comércio exterior não são contrários ao avanço das importações, que crescem em paralelo com a própria expansão do País. O economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados, concorda que o novo nível das importações deverá ficar mesmo para 2007. "Acho bom para o crescimento, desde que não decorra de câmbio distorcido ou excessivamente valorizado."

"Qualquer país em desenvolvimento tem de ter importações fortes, elas representam base de exportações fortes no futuro", diz o vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Para ele, faria sentido ter até uma meta para as importações. "Há espaço para importar mais. A preocupação é manter o ritmo das exportações compatível", afirma o economista da Fundação Centro de Estudos em Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior indicam que cerca de 50% de tudo o que o País importa são matérias-primas, 20% são bens de capitais (máquinas e equipamentos) e de 15% a 20%, petróleo, combustíveis e nafta. Os 10% restantes são bens de consumo. "Cerca de 90% de tudo o que importamos está diretamente vinculado à produção. Crescimento das importações no Brasil é uma coisa positiva", disse ao Estado o secretário-executivo do ministério, Ivan Ramalho. Ele reconhece, porém, que há preocupações de alguns setores com o avanço das importações.

"Não sei se podemos imaginar que a curtíssimo prazo as importações também estejam em três dígitos, mas eu concordo com a análise de que as exportações brasileiras vão continuar crescendo e importações mais exportações, em prazo relativamente curto, chegarão à casa de 30% do PIB, que é um indicador importante", diz Ramalho. Hoje, a participação da corrente comercial no PIB fica próximo de 27%.