Título: Para Tarso, partido vai perder 15% dos votos de 2002
Autor: Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2005, Nacional, p. A5

Seja qual for o resultado da disputa pelo comando partidário, o PT terá de mudar sua estrutura e rever o papel das correntes internas. Ainda que renovada, a legenda perderá 15% dos votos que obteve em 2002. O baque só deverá poupar o presidente Lula se ele for capaz de implementar um novo modelo de desenvolvimento. A análise é do presidente interino do PT, Tarso Genro. "O PT terá certa perda nas camadas médias, que farão uma advertência ao partido", afirma. Lula pode escapar do prejuízo porque "tem condições de recompor a sua base política, o imaginário da esperança, obviamente a depender do que vai ocorrer neste último ano de governo". Para Tarso, se o PT "não influenciar decisivamente os rumos do final do governo Lula" e o programa para o próximo mandato, "o partido perderá o sentido da sua existência". Seria, então, uma máquina burocrática de repasse de decisões do governo ou poderia se transformar num partido tradicional "que não faz nenhuma falta no cenário brasileiro".

A legenda deve interferir decisivamente no sistema de alianças, no programa de um novo mandato e, de imediato, na execução orçamentária. O presidente interino do PT tem repetido, quase como um mantra, que a estabilidade macroeconômica não pode ser tomada como um fim em si mesma, mas como uma "ponte" para um modelo com taxas de juros menores e ampliação dos investimentos públicos, de forma a garantir maior inclusão social.

MAIORIA

Tarso define como extremamente positivo o fato de que nenhuma tendência interna do PT deverá alcançar maioria isolada no comando da legenda nas eleições deste domingo. "Espero ter colaborado para isso", diz, sorriso no rosto. "Para não transgredir certos princípios", desistiu de representar o Campo Majoritário na corrida pela presidência do partido.

Não aceitou a permanência do ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (SP), na chapa do Campo - grupo moderado, forjado pelas mãos de Dirceu, que domina o PT há uma década. Tarso atribui ao deputado e ao grupo "responsabilidade política" pela crise. Isso inclui a submissão do partido ao governo, o bloqueio da democracia interna e conseqüente deformação do papel das correntes.

"O direito de tendência deve ser mantido, mas as tendências sofreram um processo de deformação nesse último período, por duas razões fundamentais: não há uma direção coletiva do partido e o debate estratégico e político interno foi bloqueado", explica Tarso. Cada corrente, diz ele, age isoladamente nas 14 secretarias da legenda, sem qualquer conexão na Comissão Executiva Nacional, que cuida do dia-a-dia do PT. "Há direções paralelas a partir de cada secretaria e uma presidência que funciona numa representação política nacional."

DEMOCRATISMO

Para Tarso, é fundamental que a Executiva - núcleo duro da instância máxima do PT, o Diretório Nacional - seja composta "por negociação, em cima de um programa mínimo de trabalho", considerando a personalidade das tendências. "Isso é uma das condições de revigoramento ou refundação do PT e diz respeito à democracia interna", sustenta. "O funcionamento autônomo das tendências no partido na verdade não configura democracia interna, configura um democratismo que rompe com a unidade de ação do PT e determina que as tendências dirijam seus esforços mais à autoconstrução do que para o projeto partidário".

O futuro do PT não está claro, insiste Tarso, para quem há dois "processos contraditórios" em curso na legenda. Um, de renovação ou refundação, outro, conservador, que imagina que o PT pode se transformar "num partido revolucionário clássico", explica ele, sem citar nomes.

A pedido de Lula, Tarso deixou o Ministério da Educação para assumir o PT. A partir da posse da nova direção do partido, possivelmente em novembro, não terá nenhum cargo na legenda.

"Posso eventualmente, se houver unidade do partido no Rio Grande do Sul, ser candidato a governador, como posso não ser candidato a nada", afirma, para em seguida ressaltar que não gostaria de disputar um cargo Legislativo.

"O que tenho certeza que vou fazer é trabalhar fortemente, com todos os companheiros da maioria que estão me acompanhando, da Democracia Socialista, independentes, nesse processo de refundação."

E jura: se esse movimento se transformar numa nova corrente interna ele fracassa. "Várias tendências devem estar envolvidas nesse processo para criar uma nova cultura política no partido", afirma.

Entre tantos problemas, o PT ainda precisa superar a falência. Apenas em 18 meses, diz Tarso, o partido "começa a funcionar não com regularidade, mas com mínima viabilidade de organizar melhor seus compromissos". Por mês, a legenda enxuga de suas despesas R$ 1,2 milhão. E ainda corre o risco de ter suspensos os recursos do Fundo Partidário, de onde financiou a metade de seu orçamento em 2004.