Título: Para Singer, redenção do PT é enterrar a era Duda
Autor: Guilherme Evelin e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2005, Nacional, p. A6

A danação do PT se deve à dominação das estruturas partidárias pelos profissionais, militantes que são políticos em tempo integral e passaram a se dedicar essencialmente a escalar cargos, eleição após eleição. A redenção agora para o PT é deixar a era Duda Mendonça e voltar aos tempos românticos em que fazia campanhas eleitorais, basicamente, com o financiamento dos militantes. Para os profissionais, pode soar ingênuo, mas essa é a pregação de um dos intelectuais mais emblemáticos do PT, o economista Paul Singer. Aos 73 anos, ele está no partido desde sua fundação e foi integrante da primeira administração petista na Prefeitura de São Paulo, a de Luiza Erundina, entre 1989 e 1992. "É preciso que o PT manifeste de público que pode e pretende funcionar exclusivamente com as contribuições de seus militantes e simpatizantes e os recursos do Fundo Partidário", argumenta Singer. "Esse é um compromisso que nenhum outro partido assumiu."

Segundo Singer, a profissionalização dos dirigentes do partido criou um fosso na relação com os militantes petistas nos movimentos sociais. A volta ao amadorismo, por isso, deve ser acompanhada também de uma mudança na atitude do partido na disputa das eleições.

"O partido deve usar as campanhas eleitorais para esclarecer o eleitorado e não para disputar o voto apolítico, vendendo seus candidatos como bens de consumo", teoriza o secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho. "Disputas eleitorais são importantes, mas na medida em que elas contribuem para o avanço das conquistas sociais."

Para Singer, que está no governo Lula desde junho de 2003, a convocação de um congresso partidário, após o PED, pode significar o reencontro com as origens do partido e suas bases históricas nos movimentos sociais. "A ruptura do PT com seus compromissos históricos foi real, mas limitada", diz Singer. "Em um congresso, a maioria dos petistas decidirá se fica com suas posições originais ou se aceita as novas, resultantes da ruptura."