Título: Deputado não vê salvação e já migrou para o PDT
Autor: Guilherme Evelin e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2005, Nacional, p. A6

A curto prazo, o PT não tem salvação. O partido poderá reconquistar credibilidade, mas só depois de percorrer um caminho muito longo. Com essa idéia na cabeça e pouco tempo para esperar essa recuperação, o deputado federal André Costa, depois de 12 anos de militância, resolveu deixar o PT. Diplomata de profissão, ele deixou, no final de 2004, o posto de segundo secretário na embaixada do Brasil em Kiev, na Ucrânia, para assumir uma vaga na Câmara com a eleição de Lindbergh Farias para a prefeitura de Nova Iguaçu (RJ). Menos de um ano depois, Costa não segue os hábitos comedidos dos colegas do Itamaraty e bate na falta de "ousadia" do governo Lula sem punhos de renda. "O desfazimento ético e moral do partido foi definitivo para a minha saída, mas o principal problema foi a perda do ímpeto transformador", diz Costa, 37 anos. "O governo Lula não deu uma pista para uma mudança. Poderia ir tocando o barco na economia no primeiro ano , mas sinalizando para um projeto de desenvolvimento nacional. Está provado que esse projeto não existe. Não passou de retórica de palanque."

O problema, segundo o novo deputado do PDT, não se resume à adoção de um modelo econômico, que, na sua opinião, é conservador e "retira oxigênio para investimentos em infra-estrutura e na área social". "Dizer que a economia vai bem é uma falácia. O crescimento econômico é medíocre, muito abaixo do nosso potencial e das nossas necessidades sociais", diz o ex-petista. "Mas, além disso, a política social também é assistencialista por natureza."

Segundo o deputado, o Bolsa-Família, alardeado pelo governo Lula como o maior programa de transferência de renda do mundo, não passa de "uma compra de votos velada". "Ação emergencial em bolsões de miséria é justificável, mas a lógica do programa é a mesma da distribuição dos tíquetes de leite feita pelo o governo Sarney: me dá um dinheiro aí, sem a exigência de nenhuma contrapartida", resume Costa.

Ele resolveu jogar a toalha no PT, sem esperar pelo resultado do PED, porque avalia que a luta interna entre as diferentes tendências do partido vai se acirrar. "Não dá para a sociedade brasileira esperar pela reconstrução do PT. A necessidade de um novo projeto político é mais urgente", prega.