Título: Fundo Partidário bancou jatinhos para petistas e até viagem a Paris
Autor: Diego Escosteguy e Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - Obtida pelo Estado, a íntegra da prestação de contas do PT ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2003 revela que a farra de gastos patrocinada com recursos do Fundo Partidário - abastecido com dinheiro público - está longe de se limitar às passagens aéreas para parentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Um exame atento da documentação mostra que o PT costumava bancar jatinhos particulares para dirigentes partidários e para a então prefeita de São Paulo Marta Suplicy. Além disso, pagou pelo menos duas viagens internacionais do marido dela, Luis Favre, uma para Paris, ao custo de R$ 17.700, e outra para Madri. Também financiou despesas de três dos envolvidos nas investigações das CPI dos Correios e do Mensalão, entre eles José Adalberto Vieira da Silva, preso com US$ 100 mil na cueca. As notas fiscais, recibos e cheques anexados à prestação de contas do PT em 2003 mostram que o pagamento de aluguéis de jatos executivos com dinheiro do Fundo Partidário era rotina. A maioria das notas não indica quem viajava nas aeronaves, mas algumas discriminam como passageiro o então presidente da sigla, José Genoino.

A papelada também mostra que o partido pagou um jatinho para Marta Suplicy, em junho de 2003. A viagem a Brasília e Florianópolis ocorreu no dia 27 daquele mês e custou R$ 26.970. A despesa foi paga com um cheque da conta do partido que movimenta exclusivamente recursos do Fundo Partidário. Segundo a nota fiscal da TAM Taxi Aéreo, a viagem de Marta no jato executivo PT-XMM começou em São Paulo, passou por Brasília, fez escala em Florianópolis e voltou à capital paulista. O controle do PT registra que a viagem teria como destino um "encontro de deputados e vereadores" do partido.

Assinado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o cheque que bancou o jatinho tem o número 851250, data de 10 de julho e é nominal à TAM Táxi Aéreo. O cheque registra que a despesa foi debitada da conta 140808-9, agência 3344, no Banco do Brasil. Justamente a conta do PT que recebe recursos do Fundo Partidário.

MISTÉRIO

Entre as viagens misteriosas, está uma de Brasília a Ribeirão Preto, cidade do ministro Palocci. Se o PT não discriminou quem embarcou no jatinho, a JMSS Representações Aeronáuticas, que emitiu a nota fiscal, foi mais vaga. Não registrou a data da viagem nem o prefixo da aeronave. Só indicou o percurso Brasília-Ribeirão Preto-Brasília e o valor de R$ 8.520.

A prestação de contas do PT mostra dois grandes pagamentos à Líder Táxi Aéreo, que realizou a maioria das viagens, em março de 2003. Um de R$ 96 mil e outro de R$ 58 mil. As notas mostram viagens por todo o País. Na prestação de contas de 2004, esses gastos continuaram. O PT declarou ter pago 43 notas fiscais à Líder, que somam cerca de R$ 800 mil.

Procurada pelo Estado, a assessoria do PT afirmou que o partido "cumpre rigorosamente as exigências legais na destinação dos recursos do Fundo Partidário. Não há qualquer impedimento legal para custear despesas de interesse partidário com recursos do Fundo". A assessoria também informou que a viagem de Marta atendeu a uma "agenda partidária".