Título: Após 3 meses, brasileiro ferido recebe alta e lembra dificuldades da missão
Autor: Eduardo Nunomura
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2005, Inetrnacional, p. A22

RIO - O tenente Nelson Dias Leoni, de 26 anos, ferido com um tiro de fuzil no Haiti três meses atrás, recebeu alta quarta-feira, depois de passar por nove cirurgias - uma delas para enxerto de nervos. Leoni está sem movimento no braço esquerdo e deve passar por outras duas operações, mas está confiante. "Os médicos acreditam que vou voltar a mexer o braço", disse ao Estado. Leoni fazia patrulhamento de rotina nas ruas de Porto Príncipe em 22 de junho quando foi ferido. Naquele dia, seu pelotão vistoriou algumas casas e resgatou uma mulher que havia sido seqüestrada. "Não cheguei a falar com ela. Estávamos retornando em comboio, logo depois que a mulher foi entregue às autoridades locais, quando ouvi dois tiros. Estava sentado na caçamba do caminhão. O segundo me acertou e me empurrou para dentro." O tenente disse não ter sentido dor. "Cheguei a pensar que outro tivesse sido alvejado. Só percebi que era eu porque não consegui levantar." Uma ambulância seguia atrás do caminhão em que Leoni estava e o atendimento foi imediato. "Isso salvou minha vida". Ele foi levado para um hospital da ONU. Dali, foi transferido para a República Dominicana, onde passou 20 dias. Ficou internado por mais dois meses no Hospital Central do Exército, no Rio.

Leoni chegou ao Haiti em 6 de junho e deparou-se com muita miséria. "É um país muito mais pobre que o nosso. Mas é surpreendente como eles valorizam bastante o Brasil. Somos tratados com muito carinho", disse o pára-quedista. que não pode comentar assuntos polêmicos, como a rejeição à missão da ONU no país. "Posso dizer que mesmo quem é contra a presença da ONU respeita muito o brasileiro," O militar, que chegou a fazer incursões em favelas cariocas, diz que a comparação é difícil, mas ainda prefere arriscar a vida no Brasil: "Pelo menos eu entendo a língua."