Título: Sucessão já mobiliza 15 candidatos
Autor: Eugênia Lopes e Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/09/2005, Nacional, p. A12

BRASÍLIA - Dada como inevitável, a sucessão de Severino Cavalcanti (PP-PE) na presidência da Câmara traz todos os elementos para tornar-se um processo tumultuado. A corrida já envolve pelo menos 15 parlamentares, que tentam se cacifar como candidatos de seus partidos e obter apoio nos demais. Na avaliação de líderes partidários, é necessário o apoio de pelos menos 200 deputados para a eleição. Na disputa, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), que já presidiu a Câmara duas vezes, saiu na frente. Mas ele enfrenta resistências, que afloraram inclusive em seu partido, onde emergiu também a candidatura de Osmar Serraglio (PR), o relator da CPI dos Correios. O pefelista José Thomaz Nonô (AL), vice-presidente da Câmara, será o substituto provisório em caso de saída de Severino, mas pode concorrer numa eventual eleição. No jogo intrincado, o PT ressurge com pelo menos quatro candidatos - José Eduardo Cardozo (SP), Paulo Delgado (MG), Sigmaringa Seixas (DF) e Arlindo Chinaglia (SP).

A escolha, que deverá ocorrer apenas cinco dias úteis depois da possível renúncia de Severino à presidência - embora ele ainda insinue que poderá apenas se licenciar do cargo -, é tumultuada ainda por um dado adicional. Ao presidente da Câmara cabe a decisão de engavetar ou de levar adiante os processos de impeachment contra os presidentes da República. Embora nenhum processo esteja em elaboração, essa hipótese não chega a ser completamente descartada e dependerá do rumo das três CPIs (Correios, Bingos e Mensalão) que investigam atos de corrupção de integrantes do governo de Lula e de seu partido.

Temer não só enfrenta resistências internas como assusta o PFL. Os pefelistas entendem que a decisão fortaleceria demasiadamente o PMDB, que já conta com a presidência do Senado e com um licenciado de sua bandeira, Nelson Jobim, na presidência do Supremo Tribunal Federal. Ou seja, já existem peemedebistas em dois outros postos da linha de sucessão do presidente da República. Adversário afiado de Lula, Temer tenderia a ser menos sensível a apelos governistas se chegar à sua mesa, na presidência da Câmara, um processo de impeachment.

PSDB e PFL pretendem trabalhar juntos e buscar uma fatia do PMDB. Essa aliança poderia garantir a eleição de um nome que não tivesse grande resistência nas demais bancadas. Mas esses mesmos partidos ainda não conseguiram unidade interna sobre o tema.

Entre pefelistas, uma corrente prefere dar ao PT a presidência da Câmara sob o argumento de cumprir com a tradição de conceder ao partido com maior representação o direito de indicar o presidente. Para tanto, o PT teria de elaborar uma lista de nomes e submetê-la à negociação com os outros partidos.