Título: Pelo controle da internet, País se afasta da China
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2005, Economia & Negócios, p. B5

GENEBRA - Nem sempre uma aliança com a China pode dar resultados no cenário international. Por isso, o Itamaraty adota nova estratégia a partir de hoje nas negociações para a internacionalização do controle da internet e tenta se afastar, pelo menos publicamente, de uma aliança com países com governos autoritários como China, Cuba ou onde a democracia é colocada em dúvida, como o Irã. A negociação para a democratização da internet começou há dois anos na ONU e agora entra na fase decisiva. O objetivo dos governos é chegar com um acordo na Cúpula Mundial da Informação, em novembro, na Tunísia. Os Estados Unidos são os principais opositores da proposta liderada pelo Brasil, de ampliar o controle sobre a rede de computadores.

Pela proposta do País, a gestão da internet deveria ocorrer de forma transparente, democrática e internacional. Isso, na prática, significa retirar dos Estados Unidos o controle sobre a rede mundial. Hoje, quem faz esse trabalho de gestão é a Icann, empresa com sede na Califórnia, que garante ser independente, apesar de acusações de estar ligada ao Departamento de Comércio americano.

Até hoje, os principais aliados brasileiros eram países como a China, Cuba e Irã. O contra-ataque da oposição, portanto, encontrava um argumento fácil para desacreditar a proposta e acusava o grupo de querer controlar o fluxo de informações na internet.

Para tentar se desvencilhar desse argumento, o Brasil decidiu se aproximar de países como Índia e África do Sul, que co-patrocinarão uma proposta de internacionalização e afastam o argumento americano de controle sobre o fluxo de informação.

Outra estratégia brasileira é trazer os europeus para apoiar a proposta de internacionalização da gestão. Nos últimos dias, negociadores brasileiros foram a Bruxelas entender a proposta da União Européia e concluíram que existe espaço para uma aliança. "Brasil e Europa estão alinhados nessa questão. O que precisamos agora é convencer os americanos a negociar, o que está sendo uma tarefa difícil", afirmou um diplomata. "Parece inacreditável que tenha havido um acordo sobre telefonia no passado e que não haja um acordo sobre a Internet hoje", afirmou o embaixador do Brasil em Genebra, Luiz Felipe de Seixas Correa.

A partir de hoje, todas essas alianças e negociações vão ser retomadas em Genebra. Por duas semanas, os 191 países da ONU se reúnem para uma última tentativa de fechar um acordo antes da Cúpula na Tunísia.

O País, admite, porém, que os votos de China, Cuba e Irã serão importantes no final do debate. Assim, o afastamento seria apenas uma questão de fachada.