Título: Berzoini já caça apoios para 2.º turno
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2005, Nacional, p. A5

O candidato à presidência do PT do Campo Majoritário, Ricardo Berzoini, admitiu ontem a possibilidade da eleição interna do partido ser definida no segundo turno e afirmou que vai buscar apoio em todas as correntes adversárias, caso isso ocorra. Um dia antes, ele havia dito que confiava numa definição já no primeiro turno. "Na última eleição, a diferença entre o primeiro turno e o segundo turno foi de apenas 2%", disse pela manhã, antes de votar em um colégio da zona sul de São Paulo. "Nós avaliamos a possibilidade de a vitória sair no primeiro turno ou no segundo. Se houver (segundo turno), faz parte da democracia e vamos fazer mais três semanas de campanha e debater com a base filiada do partido."

Berzoini, que foi escolhido candidato na última hora, após os escândalos de corrupção envolvendo os principais dirigentes do Campo Majoritário, é o favorito na disputa. Sua candidatura tem o apoio da atual direção do PT e do governo Lula. Outros seis candidatos disputam a presidência - cinco ligados às alas mais radicais do partido e que devem compor aliança num eventual segundo turno. Para que haja uma definição de vitória no primeiro turno, o candidato precisa ter 50% dos votos, mais um voto. Caso isso não ocorra, o segundo turno acontece no dia 9 de outubro.

Berzoini, que tem atacado o discurso radical de seus adversários, preferiu ontem falar em composição. "O Campo Majoritário vai buscar dialogar com todas as correntes e candidatos. É importante lembrar que as sete candidaturas nacionais expressam não apenas uma linha de pensamento, mas uma série de alianças regionais."

Para ele, haverá uma mudança de cenário na política de alianças, caso haja uma nova disputa. "Se houver segundo turno, ele vai ter uma outra dinâmica bem diferente do primeiro turno. E não há razão para supormos que haverá isolamento político de quem quer que seja. Nem nosso, nem dos nossos adversários", afirmou.

Apesar de considerar a possibilidade do segundo turno, Berzoini afirmou que o Campo Majoritário, se eleito, promoverá uma abertura política na composição da direção partidária. Sua corrente dirige o PT há dez anos e é alvo de críticas internas por monopolizar as decisões partidárias. "Independente do resultado, mesmo com nossa vitória, eu quero fazer composição (com as demais correntes), porque eu acho que o PT precisa de todos para estabelecer uma dinâmica democrática na gestão do partido." E acrescentou: "Nós vamos procurar todos os setores do partido, mesmo aqueles que têm mais antagonismos com a nossa linha, para compor uma maioria que não seja só numérica, mas política de fato."

Apesar do discurso aglutinador, Berzoini voltou a criticar a postura de seus adversários na disputa. A maioria dos candidatos tem feito duras críticas ao governo Lula, principalmente à sua política econômica. "Eu acho que há alguns setores que têm um discurso que aparenta, em muitos momentos, ser quase de oposição ao nosso governo. Eu acho que esses setores devem fazer uma reflexão, porque o nosso governo propiciou mudanças importantes na economia brasileira, levando ao crescimento do emprego e à distribuição de recursos."

Questionado sobre as dificuldades enfrentadas pelo Campo Majoritário na disputa, Berzoini disse que não vê diferenças em relação ao cenário da última eleição direita dentro do PT, realizada em 2001. "Não há mudanças na correlação de forças dentro do partido e teremos um quadro de definição entre primeiro e segundo turno por um percentual muito pequeno (como ocorreu em 2001)."

Berzoini falou também que, caso seja eleito, não vê problemas para viabilizar uma reestruturação política e financeira do partido. "O PT sempre teve muitas divisões. Essa diversidade é uma força do PT, ao contrátio do que muita gente julga."

O candidato, que votou logo cedo, tirou o dia de ontem para percorrer zonas de votação em bairros da periferia de São Paulo e terminou num encontro no Diretório Nacional.