Título: Corrupção desencanta petistas e tira a estrela e o vermelho das ruas
Autor: Paulo Baraldi e Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2005, Nacional, p. A7

Três homens conversam na porta de entrada do Diretório Zonal do Butantã, na zona oeste de São Paulo. Falam sobre erros e acertos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, remoem o impacto das denúncias de corrupção no PT. A certa altura um deles, aí pelos 50 anos, admite: "Hoje de manhã, na hora de sair de casa, fiquei na dúvida: punha ou não a estrela do PT na lapela? E, pela primeira vez em dia de eleição, eu achei melhor não pôr." Faz-se um breve silêncio. E ele conclui, desalentado: "Eles não podiam ter feito isso com o partido."

Olhando ao redor, percebe-se que não é o único a ter tomado tal decisão. São raros os broches. Na rua, nada indica que é dia de eleição. Nenhuma bandeira vermelha. Nem estrela.

A quilômetros dali, no Zonal da Cidade Ademar, zona sul, um solitário militante agita a bandeira do partido na porta do diretório. De repente, um Gol vermelho pára diante dele e o motorista berra, provocativo: "Óia o mensalão!"

Minutos depois, outro motorista, sem parar: "Corrupto."

O militante finge que não ouve. Na Vila Mariana, ainda na zona sul, quando o deputado José Dirceu deixa a sede do diretório, após votar, uma senhora põe a cabeça para fora da janela de seu apartamento, no primeiro andar, e dispara:

"Pega ladrão!"

O deputado não ouve. Ela conta aos jornalistas que tem 63 anos e é microempresária.

Na entrada de cada diretório, entre os cabos eleitorais das diferentes chapas, há sempre alguém tentando convencer os eleitores com argumentos contra a corrupção, em defesa da ética, não lá fora, na arena política, mas no interior do próprio partido. Algo impensável na eleição de 2001, a primeira em que houve votação direta para a escolha da presidência e do diretório nacional. Aquele foi o ano da euforia, com urnas eletrônicas, muita bandeira e muito broche, enquanto o então secretário de organização, Silvio Pereira, falava sobre as apurações com os jornalistas como se tratasse da eleição para a Presidência da República, como se todas as portas do mundo estivessem abertas para o PT.

Agora é diferente. A militância petista parece duplamente atingida. A primeira vez foi quando a direção nacional resolveu pô-la de lado nas campanhas eleitorais de 2002 e 2004, apostando todas as fichas nos marqueteiros; e a segunda com a explosão das denúncias de corrupção.