Título: Denúncias, agressões e bate-boca, o retrato de um partido dividido
Autor: Paulo Baraldi e Marcelo Godoy
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2005, Nacional, p. A7

Pela quantidade de denúncias e acusações de irregularidades, a eleição do PT parecia mais uma guerra entre partidos do que disputa interna. Urna aberta durante a votação, recibos de pagamento de anuidade em troca de votos, deslocamento de eleitores financiado por candidatos, churrasco em posto de votação e até propaganda dentro da cabine integram o conjunto de acusações entre as correntes do PT. A ex-vereadora Tita Dias, da coordenação da campanha de José Eduardo Cardozo, candidato a presidente do Diretório Municipal de São Paulo, registrou um Boletim de Ocorrência na polícia, por agressão, quando inspecionava postos de votação em Pirituba, zona oeste de São Paulo. Ela alega ter sido agredida enquanto filmava ¿ com uma máquina fotográfica digital ¿ o transporte irregular de filiados ao diretório.

Tita perdeu a máquina na confusão. ¿Vieram me propor que, se não fosse feito o boletim, a máquina seria devolvida. Mas vamos levar isso até o fim¿, disse Marco Antônio Manfredini, chefe de gabinete do deputado Carlos Neder e integrante da chapa de Cardozo. O motorista de uma perua Kombi admitiu que levou eleitores para o diretório de Pirituba, trabalhando para a candidata zonal Marinalva Gonçalves de Brito da Silva.

O pagamento de anuidade na última hora foi uma das denúncias mais comuns. Como era preciso estar em dia com a anuidade para votar, em diferente locais foi constatada a presença de cabos eleitorais dispostos a pagar para grupos inteiros que eles conduziam. No diretório do Butantã, zona oeste, o presidente da mesa não aceitou a proposta de um cabo eleitoral que trouxe dez eleitores e queria acertar a anuidade de todos eles ¿ R$ 5 para cada um. No Campo Limpo, zona sul, a petista Simone Loureiro disse não saber em quem votou. Contou que foi filiada pelo grupo político ligado à prefeita Marta Suplicy, no final do ano passado, e agora tinha sido convocada para votar. Recebeu o recibo de pagamento da anuidade e a lista de nomes quando chegou. ¿Não conheço ninguém¿, admitiu.

No diretório de Santo Amaro, também na zona sul, o atual presidente e candidato Adir Gomes Teixeira, da Articulação de Esquerda, promoveu um churrasco à tarde. No bairro da Saúde, a ¿espessura das cédulas¿ deixou uma urna aberta durante todo o dia. ¿As três chapas entraram em acordo¿, disse a mesária Oneli Aparecido Pinto. No mesmo lugar, a militante Cássia Nogueira retirou propaganda eleitoral da cabine de votação.

Na Vila Mariana, na zona sul, o vereador José Américo Dias irritou-se quando jornalistas estranharam o fato de ter ido votar com o carro oficial da Câmara. ¿Peguem a lei¿, disse. ¿Estou numa atividade partidária, ligada ao meu mandato.¿

No Campo Limpo, integrantes da Democracia Socialista, que apoiavam a candidatura de Raul Pont, reclamaram da presença de ônibus e peruas transportando militantes. No diretório do M¿Boi Mirim, peruas chegavam com eleitores às 16 horas e as pessoas eram levadas diretamente ao local da votação.