Título: Dirceu assume 'responsabilidade política' pela crise e defende Lula
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2005, Nacional, p. A8

O ex-ministro e deputado federal José Dirceu (PT-SP) admitiu ontem "responsabilidade política" pela maior crise da história do PT. "Ao contrário de muitos da executiva, da direção nacional e dos principais líderes do PT, eu não fujo das minhas responsabilidades", acrescentou Dirceu, em entrevista, ao votar, pela manhã, na eleição petista na sede do diretório zonal da Vila Mariana Apesar da autocrítica, Dirceu limitou sua responsabilidade na crise ao fato de fazer parte do diretório nacional do partido. "Responsabilidade política teve todo o diretório nacional, toda a executiva nacional, todos os integrantes do PT, cada um no seu grau devido", afirmou. Ele continuou a refutar qualquer tipo de culpa por atos do ex-tesoureiro Delúbio Soares. " Não era membro da executiva. Não participava das decisões administrativas, financeiras, organizativas do PT", disse o ex-ministro, reiterando que não há provas de seu envolvimento com o chamado esquema do mensalão.

Dirceu afirmou que sabe se defender sozinho e não cobra "nada nem do PT e do presidente Lula". Disse: "Tenho argumentos, fatos e provas de que sou inocente do que estão me acusando."

No decorrer da entrevista, porém, demonstrou em mais de um momento sua mágoa com as críticas que têm recebido de dirigentes do partido. Falando às tendências de esquerda, negou que tenha implementado a prática do rolo compressor nas discussões internas - acusação feita sistematicamente a ele - quando foi presidente do partido, entre 1995 e 2001.

"Não é verdade que era uma gestão stalinista", disse. "Trabalhei muito para que o PT se democratizasse e o partido viveu um amplo processo de debate político e de crescimento eleitoral e de militância". O ex-ministro lembrou que sua atuação nunca foi objeto de unanimidade: "Quando comecei a militar, muita gente não me queria no PT. Em 1995, grande parte do partido não me queria." Para ele, é natural que muitos petistas o considerem "indesejável".

Dirceu admitiu que a eleição interna poderá significar o fim da hegemonia do Campo Majoritário - grupo que controla o partido, criado sob sua inspiração. "Não vai haver o mesmo espectro que existia no PT antes, nem no Campo Majoritário, nem nas forças que se auto-intitulam de esquerda", avaliou. "Partido político, de tempo em tempo, reconstitui as maiorias. O PT, a partir dessa crise, não será o mesmo de antes".

DUAS VISÕES

Sobre a ameaça de deputados da esquerda abandonarem a legenda em caso de vitória do Campo, disse que o PT vai ter de decidir se continuará a conviver com dois programas, táticas e visões de mundo completamente diferentes. Ele previu, porém, um futuro "promissor" para o partido. "Não vejo risco de o PT desaparecer. Ele vai continuar sendo a principal força política do país."

Para o ex-ministro, o presidente Lula mantém inalterada a sua força para conquistar a reeleição: "O presidente vai disputar a reeleição para defender o mandato dele, o PT e o governo. Tem chances reais de ir para o segundo turno e ganhar as eleições". Ele também fez defendeu as realizações do governo na área econômica e social. "O governo do presidente Lula é o melhor dos últimos 20 anos."

Dirceu disse que não se enquadra entre os que se dizem desiludidos e traídos pelo governo. "É lógico que o governo podia ter avançado em muitas questões, mas a herança, por ser um governo de minoria, pelas condicionantes econômicas do País, pela situação internacional, delimitavam seu campo de atuação", afirmou. Ele também lembrou que em várias ocasiões divergiu dentro do governo a respeito de seus rumos; e defendeu a construção de novas alianças políticas para 2006. Afirmou que o balanço das "conseqüências" da parceria com PL, PTB e PP deverá ser feita em congresso do PT.