Título: Severino renuncia na 4.ª, dizem aliados
Autor: Eugênia Lopes e Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2005, Nacional, p. A10

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), deverá renunciar a seu mandato, em pronunciamento nesta quarta-feira, no plenário da Casa. Hoje, Severino encontra-se com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar manter os seus apadrinhados políticos em cargos do governo federal. Em reunião ontem à noite com aliados, na residência oficial da Câmara, Severino deixou clara sua disposição de renunciar à presidência da Casa e ao mandato de parlamentar. ¿Ou ele sai ou ele enfrenta o processo¿, disse o deputado João Caldas (PL-AL), quarto secretário da Mesa Diretora da Câmara e um dos principais aliados de Severino. O presidente da Câmara estava, no entanto, preocupado com as conseqüências de sua renúncia: a perda de foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF) para responder às acusações de recebimento de propina. ¿A hipótese de ele pedir uma licença do cargo está afastada¿, garantiu ontem o deputado Feu Rosa (PP-ES), depois de se reunir com Severino. ¿Não vejo razão para ele pedir licença. Ele mesmo disse que está muito bem de saúde¿, reforçou José Eduardo Alckmin, advogado do presidente da Câmara.

A tendência de Severino renunciar ao mandato não agradou, no entanto, a todos os seus aliados. Segundo participantes da reunião na residência oficial da presidência da Câmara, o líder do PP, deputado José Janene (PR), defendeu abertamente que Severino não se desligue da Câmara. Janene argumentou que o melhor seria que Severino enfrentasse o julgamento de ¿cabeça erguida¿ no comando da Câmara. Já o deputado e corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), considerado um filho por Severino, defendeu a renúncia do presidente da Casa.

A maior preocupação de Severino com a renúncia dupla era a perda do foro privilegiado no Supremo para responder às acusações feitas pelo empresário Sebastião Buani, que alega ter pago propina ao pepista para renovação da concessão de restaurante da Câmara ¿ o chamado mensalinho.

Caso renuncie ao mandato, Severino passa a responder o inquérito na Justiça na primeira instância. Por isso, ele não havia descartado totalmente apenas deixar o comando da Casa e se defender das denúncias como parlamentar.

Desgastado com sua própria crise, o Palácio do Planalto tem evitado se expor publicamente em acordos com Severino. Na sexta-feira, Lula recusou-se a receber reservadamente o presidente da Câmara. O governo, porém, não quer um oposicionista na cadeira de Severino e, por isso, tem dado sinais fortes ao presidente da Câmara de que não vai mexer em seus indicados, como o ministro das Cidades, Márcio Fortes.

O presidente Lula concordou em receber hoje Severino, desde que o encontro seja aberto e com testemunhas. ¿Anormal seria o Severino não ter essa conversa com o presidente. Esse encontro vai influenciar na decisão final dele¿, afirmou João Caldas. Depois do encontro com Lula, Severino volta a se reunir com seus aliados para dar uma posição sobre a manutenção dos cargos do PP no governo.

O Planalto teme que, magoado, o presidente da Câmara dê apoio à candidatura do atual vice-presidente, José Thomaz Nonô (PFL-AL), ao comando da Casa. Parte dos parlamentares do PP quer que Severino invista na candidatura de Nonô e defende que o partido passe para a oposição.

Severino recebeu uma romaria de aliados durante o dia de ontem na residência oficial da Câmara. Acompanhado da mulher, Amélia, e de seus três filhos, ele ouviu as ponderações de seus companheiros de que o melhor é renunciar ao mandato e, em 2006, tentar se reeleger para a Câmara. ¿Temos de pensar na vida da instituição e, neste momento, a permanência de Severino pode provocar tumulto na instituição¿, disse o advogado José Eduardo Alckmin, antes de se reunir com seu cliente no início da noite. ¿Ele está ouvindo os parlamentares e vai tomar uma decisão política¿, resumiu o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), que foi chamado por Severino para participar da reunião