Título: Cúpula do Cone Sul será novo desafio
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2005, Nacional, p. A11

BRASÍLIA - De volta de Nova York, onde assistiu na semana passada ao fracasso da ambição de ver o Brasil entre os membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o presidente Lula enfrentará um novo desafio no plano externo. Incluída nas prioridades da política externa, a Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa) terá sua primeira reunião de cúpula nos dias 29 e 30, em Brasília, sob ameaça de esvaziamento. O encontro esbarra no desinteresse ou desconfiança de parceiros relevantes. Álvaro Uribe, presidente da Colômbia, informou semana passada que não virá. Considerada presença indispensável, dada a parceria estratégica Brasil-Argentina, Néstor Kirchner, em princípio, seguiria o exemplo do colombiano. As expressões da liderança brasileira que pululavam nos discursos de Lula nos últimos dois anos foram amenizadas recentemente, respondendo às reações dos vizinhos e aos riscos de naufrágio da primeira reunião da Casa.

A reunião terá o objetivo de assentar o projeto de integração sul-americana em um tripé - a interligação da infra-estrutura; a intensificação do diálogo político; e o aprofundamento das relações comerciais, por meio da incorporação da Guiana, do Suriname e do Chile à rede de acordos preferenciais e de livre comércio dos demais países da região. Segundo o ministro Enio Cordeiro, diretor do Departamento de América do Sul do Itamaraty, a meta comercial é alcançar a liberalização plena das trocas de bens e de serviços entre os 12 países do continente.

A Casa nascerá sob a cláusula democrática - compromisso já presente nas regras do Mercosul, que prevê a exclusão do país que romper com essa prática - e será montado em uma estrutura leve. A previsão é de encontros presidenciais a cada ano e reuniões semestrais dos chanceleres. A presidência será rotativa. "Não queremos criar um monstrengo para gerir o processo", diz Cordeiro.

O Itamaraty rechaça as suspeitas de que a Casa tenha o objetivo de alavancar a liderança do Brasil e as queixas de que o Mercosul poderá ser relegado a segundo plano. A América do Sul, conforme ressaltou recentemente o próprio chanceler Celso Amorim, é a única região do mundo que ainda não tem um mecanismo comum para tratar de objetivos compartilhados. E, para dar certo, a Casa precisará de um Mercosul e de uma Comunidade Andina mais fortes.