Título: Eleição alemã acaba em impasse
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2005, Internacional, p. A12

BERLIM - Terminou sem definição a eleição de ontem na Alemanha. Nem a conservadora Angela Merkel, da União Democrata-Cristã/União Social-Cristã (CDU/CSU), nem o atual chefe de governo, Gerhard Schroeder, do Partido Social-Democrata (SPD), obtiveram uma bancada parlamentar sucifiente para assegurar o triunfo depois da divulgação do resultado final, faltando ainda a eleição no distrito de Dresden ¿ onde a votação só se realizará no dia 2 . O partido de Merkel, que em junho tinha mais de 20 pontos porcentuais de vantagem sobre Schroeder, obteve 35,2% dos votos. O SPD, de Schroeder, teve 34,3%. Os liberais do FDP, potenciais aliados da CDU/CSU, somaram 9,8%. Os Verdes, sócios do atual governo do SPD, tiveram 8,1% dos votos. O Partido da Esquerda, resultante da fusão do antigo Partido Comunista da ex-Alemanha Oriental com o grupo dissidente do SPD liderado por Oskar Lafontaine, estreou na política do país com a conquista de 8,7% dos votos.

Pelo complexo sistema de voto distrital misto que vigora no país, cada um dos 299 distritos da Alemanha elege ao mesmo tempo um representante no Parlamento em eleição direta e os demais deputados pelo sistema proporcional. Feitos os primeiros cálculos, a CDU ficaria com 225 cadeiras na Câmara Baixa do Parlamento e o SPD, com 222. O FDP obteria 61 assentos; o PDS, 54, e os Verdes, 51. Tanto Merkel quanto Schroeder descartam qualquer possibilidade de uma coalizão com os esquerdistas radicais do Partido da Esquerda. Assim, com essa distribuição das bancadas, nem uma coalizão CDU/CSU-FDP nem a repetição da sociedade SPD-Verdes conseguiria a maioria absoluta de 307 ¿ do total de 612 deputados da Câmara. Nem mesmo a definição em Dresden, cuja eleição foi adiada em razão da morte de um dos candidatos, poderá levar à superação do impasse, uma vez que o distrito elege ¿ dependendo das complicadas equações de representatividade ¿ entre dois e quatro deputados.

Apesar do impasse criado pelo insólito resultado da votação, tanto Merkel quanto Schroeder declararam-se ontem vencedores e reivindicaram o direito de chefiar o governo.

Embora o líder do FDP, Guido Westerwelle, tivesse rejeitado prontamente a possibilidade de formar uma coalizão com o SPD e os Verdes, Schroeder parecia ontem disposto a apostar alto na possibilidade de uma ¿grande coalizão¿, entre seu partido e a CDU/CSU.

Pouco depois do fechamento das urnas, Schroeder apresentou-se na sede do SPD levantando os braços com as mãos unidas, num sinal de vitória. Disse sentir-se ¿aprovado¿ pelos eleitores e prometeu iniciar contatos com outros partidos para formar um novo governo, que seria o terceiro sob sua liderança.

Schroeder era considerado carta fora do baralho no fim do primeiro semestre, quando o fracasso do SPD nas eleições estaduais da Renânia do Norte-Westfália ¿ reduto histórico do partido ¿ o forçou a convocar eleições antecipadas. A reação do chefe de governo na reta final da campanha é comparável à das eleições de 2002, quando conseguiu uma virada eleitoral espetacular sob seu rival da CDU/CSU, Edmund Stoiber ¿ graças à sua oposição em apoiar a guerra no Iraque e à atuação nos trabalhos de emergência nas inundações que castigaram principalmente a região de Dresden.

Merkel, por seu lado, reconheceu que esperava ¿um resultado melhor¿ na eleição. Mas afirmou que as urnas conferiram a seu partido ¿um claro mandato para formar um governo¿.

Seu partido deverá agora analisar as razões deste revés, que pode ter ocorrido em parte por erros na campanha, em particular pela nomeação do impopular Paul Kirchhof como potencial ministro das Finanças.