Título: Eleições afegãs têm baixo comparecimento
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2005, Internacional, p. A14

CABUL - Sob a ameaça dos rebeldes taleban, os afegãos foram às urnas ontem para eleger seu Parlamento pela primeira vez desde 1969. Segundo observadores locais, a participação foi muito menor do que os 76% de comparecimento na eleição presidencial do ano passado. Segundo Shahir Zahin, diretor-geral do maior grupo de mídia afegão, o Kilid, que enviou correspondentes a 24 das 34 províncias do país, apenas cerca de 50% dos mais de 12,5 milhões de eleitores registrados votaram ontem. Os votos só começarão a ser contados amanhã e o resultado final não deve ser divulgado antes do fim de setembro. Além da ação dos rebeldes, que deixou pelo menos 15 mortos - incluindo sete candidatos a deputado - durante a jornada eleitoral (ler box), a baixa participação pode ser explicada também pelo período de colheita nos pouco mais de 12% de terras cultiváveis do Afeganistão, disse Zahin. "A participação foi maior nas cidades, particularmente por parte das mulheres, mas foi muito mais baixa nas áreas rurais", afirmou.

Nas eleições de ontem, estavam em jogo todas as 249 cadeiras do Parlamento federal (a Wolesi Jirga) e 420 vagas nas 34 assembléias provinciais do país. Quase 6 mil candidatos disputavam os cargos.

Na capital Cabul, a cédula eleitoral era um caderno de sete páginas com fotografias de 400 candidatos - o índice de analfabetismo do país supera os 60%. "A confusão é tão grande e são tantos os votos aleatórios que seria impossível fazer qualquer previsão de resultado", declarou Françoise Hostalier, observadora da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Apesar disso, poucas irregularidades eleitorais foram registradas, levando-se em conta a dificuldade de acesso a alguns centros de votação, onde as urnas só chegaram em lombo de burro e camelos.

Segundo os observadores, o Parlamento deve ser formado principalmente por ex-comandantes mujahedin do norte e oeste do país e líderes tribais do sul e do leste.

Cerca de 40 mil policiais e soldados afegãos, apoiados por mais 30 mil soldados americanos e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), patrulharam as ruas neste domingo.

A eleição parlamentar do Afeganistão, um dos países mais pobres do mundo, foi organizada pela ONU ao custo de aproximadamente US$ 160 milhões. Desde 2001, quando uma intervenção militar liderada pelos EUA derrubou o regime da milícia integrista sunita Taleban - que dava proteção ao líder da rede terrorista Al-Qaeda, Osama bin Laden -, vários grupos disputam o poder no Afeganistão.

O governo do presidente Hamid Karzai, apoiado por Washington, considera as eleições parlamentares como um marco definitivo no esforço de reconstrução e reconciliação do país.

O Departamento de Estado americano espera ainda que a votação enfraqueça o apoio aos rebeldes taleban, cujos ataques já mataram mais de mil pessoas nos últimos seis meses.