Título: PR desenvolve kit para diagnóstico de hantavírus
Autor: Karine Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/09/2005, Vida&, p. A15

RIO - A dependência externa do Brasil na área de diagnóstico da hantavirose, doença infecciosa grave com taxa de letalidade em torno dos 45%, está com os dias contados: o Instituto de Biologia Molecular do Paraná, instituição ligada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desenvolveu um kit de menor custo, maior sensibilidade e cinco vezes mais rápido do que o material importado. Testado nos Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, na Fiocruz, no Rio, e no Instituto Evandro Chagas, em Belém, o produto pode chegar aos laboratórios de referência do País até o fim do ano, distribuído pela Coordenação-Geral de Laboratórios em Saúde Pública, do Ministério da Saúde. As negociações já estão em andamento, confirmou anteontem a coordenação de Vigilância Epidemiológica do governo federal.

"Podemos fazer o diagnóstico em 30 minutos, contra 3 horas do kit importado. Além disso, o nacional custa menos da metade do que o vindo de fora, atualmente em torno de R$ 2.700 a unidade", diz a bióloga Cláudia Nunes Duarte dos Santos, responsável pelo desenvolvimento do teste, em parceria com sua doutoranda, a médica Sonia Raboni.

Outra vantagem do produto nacional em comparação com o americano é o fato de ser, em média, 17% mais sensível no diagnóstico do anticorpo IgG, que surge numa fase posterior da doença. "Nosso kit é mais sensível porque é feito com base em antígenos (partícula ou molécula que, uma vez introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpo) recombinantes provenientes de vírus que circulam no Brasil. Já o importado utiliza antígenos de vírus que circulam por lá, por isso são menos específicos e sensíveis." Segundo ela, o teste é também mais sensível e específico na detecção de IgM, anticorpo característico de infecção recente.

A fase inicial da pesquisa foi a identificação genética das cepas de hantavírus que circulam no Brasil. Em seguida, por meio de engenharia genética, foi produzida a proteína do vírus que tem como função capturar anticorpos presentes nas amostras de sangue do paciente. O kit dos EUA usa material genético de vírus que circulam na América do Norte, Europa ou Argentina, reduzindo, assim, a precisão da captura.

O kit nacional detecta também o vírus nos roedores silvestres. São eles que transmitem a enfermidade para o homem, que é infectado ao inalar o vírus eliminado por urina, fezes e saliva dos animais contaminados ou por meio de mordidas dos roedores ou do contato do vírus com ferimentos e mucosas.

Desde que o hantavírus foi identificado no País, em 1993, até junho deste ano, foram registrados no ministério 548 casos da doença, que é de notificação compulsória. No Distrito Federal, ela surgiu no ano passado. Dos 30 casos confirmados, 13 causaram mortes. O maior número de registros em 2004 ocorreu em Santa Catarina (42) e Minas (38).

Segundo Cláudia, o kit será testado também para amostras sorológicas do Paraguai. Os resultados "extremamente promissores" em análises com amostras da Argentina e do Uruguai, diz ela, tornam a exportação do produto uma alternativa viável.