Título: A eleição acabou. A luta se acirra
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2005, Internacional, p. A16

Um dia depois das eleições gerais , o chanceler social-democrata Gerhard Schroeder e a líder democrata-cristã Angela Merkel lançaram-se ontem em acirrada luta pelo poder. Nenhum dos dois partidos obteve maioria para formar um governo. E, embora os debates para constituição de alianças devam começar oficialmente no fim do mês, social-democratas e democrata-cristãos não vêem com otimismo a possibilidade de se unirem numa "grande coalizão" para governar a Alemanha.

Nem Schroeder nem Merkel estão dispostos a abrir mão da chefia do governo, considerando o que classificam de mandato legítimo recebido nas urnas.

Os democrata-cristãos conseguiram 225 cadeiras no Parlamento e formaram a maior bancada partidária do plenário. "Recebemos um claro mandato do eleitor", disse Merkel numa referência ao desempenho dos social-democratas, que ficaram com 222 cadeiras.

Schroeder, por sua vez, nega-se a admitir uma derrota por apenas três cadeiras. E o presidente do Partido Social-Democrata (SPD), Franz Muentefering, disse que a agremiação pretende continuar administrando o país, sob a liderança de Schroeder.

Tanto social-democratas quanto democrata-cristãos deixaram claro que vão negociar apoio com todos os partidos que elegeram deputados, exceção feita à nova frente Partido da Esquerda - que elegeu antigos comunistas e dissidentes do SPD e conquistou 54 cadeiras.

O apertadíssimo resultado das eleições de domingo afetou o mercado financeiro. A Bolsa de Valores de Frankfurt registrou ontem forte baixa. O índice principal, DAX Xetra, perdeu 2 pontos. O euro, a moeda européia, teve queda de 1% em relação ao dólar.

O estancamento da economia e os altos índices de desemprego dominaram a campanha política.

Estimulada pelas pesquisas de opinião, a líder democrata-cristã esperava um desempenho melhor.

"Naturalmente, gostaríamos de um resultado mais expressivo", admitiu Merkel. Mas ela insistiu em que ganhou o direito de chefiar o governo alemão.

Por sua vez, Schroeder destacou que não pode entender como a CDU reclama a liderança política alemã "diante de um resultado eleitoral desastroso". E ressaltou que acha viável uma grande coalizão desde que a chefia do governo continue com ele. Em outras palavras, aprofundou o impasse.

Schroeder e seus partidários procuram atrair o apoio do Partido Liberal, que fez 61 cadeiras e tem sido o principal aliado dos democrata-cristãos. Com os liberais e seus sócios verdes, os social-democratas teriam maioria no Parlamento. O líder liberal Guido Westerwelle deixou escapar domingo essa hipótese (de aliança com o SPD), mas deve sofrer fortes pressões de seus tradicionais parceiros democrata-cristãos.

Mas uma coalizão CDU-CSU-liberais também não teria maioria parlamentar. A solução para Merkel seria atrair os verdes, porém o êxito de uma investida dessa natureza parece muito pouco provável.