Título: Severino diz a Lula que renuncia amanhã e planalto articula sucessão
Autor: Tânia Monteiro e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2005, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem, a portas fechadas e sem registro de imagens, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Mas antes mesmo da audiência o Planalto já articulava para pôr na cadeira de Severino um nome capaz de dar um mínimo de unidade à Câmara, mesmo que para isso o escolhido não seja do PT. Em reunião com cinco ministros de manhã, Lula reconheceu que o PT está "fraco" e, por isso, deveria abrir mão da disputa pelo posto. O presidente defendeu a escolha de um candidato "institucional", que não atenda a interesses do governo ou da oposição. Na sua avaliação e na ministros próximos, o substituto de Severino deve acalmar os ânimos na Casa neste momento de crise e não ter intenção de caçar bruxas ou fazer ataques ao Planalto. A reunião com os ministros avaliou vários nomes, como o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), bem cotado como possível candidato "institucional", até por ter pertencido ao PSDB. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), teve o nome descartado pelo estilo "duro" de se relacionar.

Lula acha que o presidente nacional do PMDB, Michel Temer (SP), perde força pelo fato de o partido já ter a presidência do Senado, comandado por Renan Calheiros (AL). Também foram analisados os nomes dos ex-ministros Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Eduardo Campos (PSB-PE), mas os dois perdem pontos por serem de partidos pequenos e estarem muito identificados com o governo.

AUDIÊNCIA

Severino chegou ao Planalto às 18h15 e entrou pela garagem. Mas teve de esperar pelo menos 45 minutos até que Lula pudesse recebê-lo. O clima era de constrangimento no palácio e os assessores informavam apenas que se tratava de um encontro institucional entre chefes de dois Poderes. A reunião durou uma hora. Para conseguir a audiência, Severino e aliados telefonaram para pelo menos quatro interlocutores do presidente: Chinaglia, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, o assessor do gabinete pessoal da Presidência, Gilberto Carvalho, e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci. Lula tem dito que tem pressa na solução deste impasse. Ontem, havia uma preocupação muito grande com a possibilidade de que a conversa no Planalto desse novo ânimo ao presidente da Câmara. "Esse encontro não pode dar gás a Severino", disse uma pessoa próxima a Lula. "Ele tem de deixar logo a Câmara, chega de problemas", completou.

SUCESSÃO

Apesar de o Planalto admitir dificuldades para que o PT assuma a presidência da Câmara, o líder do partido na Casa, Henrique Fontana (RS), disse que vai trabalhar para isso. Excluído da Mesa Diretora desde a derrota de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), em fevereiro, o PT precisa ainda, segundo Fontana, fazer uma articulação interna para escolher um nome capaz de agregar os votos de outras bancadas e recuperar seu espaço.

"Vamos ampliar nosso diálogo e ver qual dos nomes cogitados tem melhor trânsito para fazer um acordo", explicou Fontana ontem. "O momento é de crise, a Câmara está paralisada e o PT tem responsabilidade." Logo depois, o deputado foi até o Palácio do Planalto, para uma audiência com Lula. De acordo com ele, o PT não tem pressa e a bancada na Câmara está tranqüila para buscar um entendimento suprapartidário.

Os nomes mais citados no PT para substituir Severino são os de Sigmaringa, José Eduardo Cardozo (SP), Chinaglia e Paulo Delgado (MG). Mas Walter Pinheiro (BA) e Antonio Carlos Biscaia (RJ) também são cogitados. Desses, os que têm melhor trânsito na oposição são Sigmaringa e Cardozo.

Já os aliados de Temer (SP), estão animados. O deputado Eliseu Padilha (RS) acha que o presidente do PMDB tem chances, uma vez que o partido não se envolveu na crise política e o PT está muito desgastado. Temer teria mais condições de agregar os partidos de oposição, embora PSDB e PFL tenham candidatos ao cargo de Severino.

Os peemedebistas admitem até a possibilidade de Temer, que presidiu a Câmara durante dois mandatos, disputar no plenário, caso não haja acordo e constatar que tem chance. Mas, na avaliação de parlamentares do PT, o critério da proporcionalidade que dá ao PT o direito de indicar o presidente da Câmara é forte e só deve ser abandonado em caso de acordo.

(SEVERINO/IZAR) BRASÍLIA O Conselho de Ética da Câmara decidiu esperar até amanhã para tomar qualquer providência a respeito do caso do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). O início do processo contra Severino estava previsto para hoje, mas os integrantes do Conselho preferiram ouvir antes o pronunciamento que o presidente da Câmara marcou para amanhã. "Vamos aguardar, já que existe a possibilidade de renúncia", disse o presidente do Conselho, deputado Ricardo Izar (PTB-SP).

De acordo com a Constituição, um parlamentar sob acusação só pode renunciar ao mandato antes da abertura formal do processo de cassação - que, se aprovada, afasta o congressista de eleições por um período de oito anos. No caso de Severino, a decisão do Conselho de Ética lhe abrirá a possibilidade de preservar os direitos políticos e, na eleição do ano que vem, tentar reconquistar seu mandato. Dois outros deputados sob suspeita renunciaram há pouco tempo para manter a chance de disputar em 2005 uma cadeira na Câmara: Valdemar Costa Neto (PL-SP) e Carlos Rodrigues (PL-RJ), conhecido como Bispo Rodrigues.