Título: 'Não tenho medo de nada, mas não estou livre de nada'
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2005, Nacional, p. A5

No meio do turbilhão de suas denúncias contra Severino Cavalcanti, Sebastião Augusto Buani, 54 anos, tem várias dúvidas e uma certeza. Sabe que se filiará a um partido, mas não se disputará a eleição. Nem se sua mulher, Diana, a "musa do mensalinho", vai posar nua. Mas conta, rindo muito, que recusou convite de uma revista dirigida ao público gay. Hospedado num hotel de São Paulo a convite da Globo, jura que não busca a fama. "Quero voltar à minha vidinha." O sr. vai se candidatar em 2006?

Tem muito assédio, mas vou esperar a poeira baixar. Vou filiar-me a um partido, mas me candidatar é outra história. Talvez volte à Câmara, mas acho que um prefeito, deputado estadual podem fazer mais pelo povo.

É verdade que sua mulher recebeu convite para posar nua?

Atendi telefonemas sobre isso. Um cara disse que a revista pagaria minha dívida com as fotos dela. Não xinguei porque sou educado. Minha dívida é muito pequena em relação a uma foto da minha mulher. Sempre sustentei minhas mulheres, não ia precisar disso para pagar o que devo. Ela é que vai decidir.

E o sr., posaria?

Eu também recebi convite. Da G Magazine. O cara disse que já tinha a manchete. "O homem que tem aquilo roxo." Disse que mostrei que sou macho e era hora de posar. Ri muito, falei que era cinqüentão, não dá. É por timidez, não é por outra coisa.

O sr. não perderia a credibilidade?

Não. Se ele renunciar, acabou, não tenho mais nada com ele. O que não queria é deputado vendo fotos da minha mulher numa sessão da Comissão de Ética.

O sr. está assustado?

Estou preocupado. É pessoa muito poderosa, o terceiro homem do País, mais de dez mandatos de deputado. Mas estou com a consciência tranqüila. É uma missão que eu tinha de passar. Não tenho medo de nada, mas não estou livre de nada. Alguém pode fazer um atentado.

Severino faria isso?

A pessoa com quem eu convivi não faria isso. É muito calmo, tranqüilo, não faria isso.

O que acha de Severino renunciar e voltar, eleito, em 2007?

Jader Barbalho não voltou? Renunciou como senador e voltou deputado. É um problema de seus eleitores. Se votarem nele, terá mandato legítimo.

O sr. tem problemas de dinheiro?

Não. Meu pior momento foi em 2004, quando perdi as sete lanchonetes e três dos quatro restaurantes que eu tinha, quando o PT assumiu a presidência da Câmara. Hoje, tenho dois no Senado e dois no Ministério da Fazenda. E devo 100 mil e pouco para a Câmara e mais a rescisão dos funcionários, mas isso não me apavora, vou enfrentar. Ruim mesmo era trabalhar 17 horas por dia, somar tudo o que ganhei e pensar que o dinheiro ia para o Severino.

O sr. é um corruptor?

Não. Sou um homem extorquido. Sinto que todo mundo está do meu lado. As pessoas me cumprimentam, me aplaudem. O Brasil está comigo. Quem não está, está do lado do Severino.