Título: Frustrada, esquerda discute rumo a tomar
Autor: Mariana Caetano e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2005, Nacional, p. A8

A esquerda do PT se mostrou decepcionada com os resultados parciais das eleições internas do partido, divulgados ontem. Diante da crise política que assola a sigla e faz o governo Lula, símbolo do PT, enfrentar desgaste que já dura quatro meses, integrantes do Bloco Parlamentar de Esquerda - formado por 21 deputados federais - ameaçam deixar a legenda. O futuro deles no partido deverá ser desenhado a partir de reunião hoje, marcada para as 12 horas, na Câmara, em Brasília. O deputado Chico Alencar (RJ) foi um dos que não conseguiram esconder a frustração com os números. "Diante da gravidade da crise, o Campo Majoritário (ala dominante do PT) teve muito voto", comentou. "Temos de avaliar os resultados e decidir o nosso futuro."

Qualquer que seja a decisão - permanecer ou sair do partido -, ela deverá ser coletiva, e não individual. Os deputados reconhecem que eleitoralmente o PT é mais viável que outras legendas de esquerda. "Ou se tem uma atitude conjunta, ou vamos praticar suicídio eleitoral", observou um parlamentar.

A decepção com o resultado preliminar, porém, não é unânime. Há quem destaque que, embora o Campo Majoritário tenha tido boa votação, a esquerda cresceu. Tanto que vai disputar o segundo turno das eleição, marcado para 9 de outubro.

Terceiro vice-presidente do PT, e candidato da Articulação de Esquerda, Valter Pomar - até o fechamento da edição o mais provável adversário do Campo Majoritário na briga do segundo turno - foi um dos que ressaltaram o crescimento da esquerda. "É claro que não vai ser o Diretório Nacional dos sonhos. Mas é muito melhor que o atual", observou. Para Pomar, "o PT ganhou, a esquerda ganhou e quem não quer ver isso é masoquista". "O partido está se deslocando para a esquerda. Estou profundamente feliz."