Título: PT deve escolher entre Berzoini e Valter Pomar no segundo turno
Autor: Mariana Caetano e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2005, Nacional, p. A8

Os primeiros resultados da eleição no PT confirmam o fim do Campo Majoritário como potência hegemônica no Diretório Nacional - instância máxima do partido - e jogam para o segundo turno, em 9 de outubro, a decisão sobre quem presidirá a legenda. Apenas o candidato do Campo, Ricardo Berzoini, já garantiu sua passagem para a próxima etapa, com 41,6% dos votos totalizados até o início da tarde. Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, lidera a corrida para a outra vaga, com 16,8%, seguido por Plínio de Arruda Sampaio, com 14,9%. A cúpula do PT alega que ainda é impossível confirmar quem será o adversário de Berzoini, por causa do ritmo diferenciado da apuração em todo o País e da pequena margem de votos que separa o segundo do quinto colocado; Raul Pont, da Democracia Socialista recebeu 11,9% dos votos e Maria do Rosário, do Movimento PT, 12,7%.

"Está absolutamente claro que nenhuma chapa, nenhum campo terá maioria absoluta", comemorou o presidente interino do PT, Tarso Genro. "As decisões que o partido vai tomar não serão automáticas por hegemonia quantitativa. Serão decisões mais dialogadas, mais fundamentadas. Isso vai valorizar mais as instâncias do partido e todos os grupos de opinião que o PT tem."

Ainda não há números oficiais da eleição para as 81 vagas do Diretório, mas dirigentes estimam que os resultados deverão ser próximos daqueles alcançados na disputa presidencial. Nas eleições de 2001, o Campo obteve 51,7% dos votos e comanda hoje 41 postos no Diretório. José Dirceu então foi eleito presidente da legenda com 55,6%. O grupo moderado, ao qual é ligado Dirceu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a maioria dos dirigentes envolvidos no escândalo do mensalão, domina o PT há 10 anos. Com a ajuda de correntes de centro e centro-esquerda, como o Movimento PT e o PT de Luta e de Massa, o Campo obteve maiorias superiores a 60% em várias votações do Diretório

"O Campo Majoritário vai ter de mudar de nome", disse Pomar. "Pelo menos 55% dos petistas votaram nos candidatos e chapas de oposição e quem for ao segundo turno tem chance real de vitória." Para Joaquim Soriano, secretário de Formação Política do PT, ligado à Democracia Socialista, o Campo "se espatifou". Na definição de Tarso, defensor da "refundação" do PT, o resultado da eleição "enterra de vez o nome Campo Majoritário".

GOVERNO

Dirigentes do Campo procuraram relativizar a derrota. "Todo o peso da crise ficou em cima do Campo Majoritário. Dessa forma, tivemos resultados positivos na eleição nacional e nos Estados", declarou Paulo Ferreira, secretário de Relações Internacionais do PT e um dos coordenadores do Campo. Ele admite a necessidade de "maior diálogo" entre todas as forças do Diretório e a tendência de a nova composição tornar o PT "mais ativo" na relação com o governo Lula. "Vamos qualificar mais a relação com o governo, ser mais ativos na crítica positiva." O teor da resolução aprovada ontem pela Executiva Nacional do partido já dá sinais nesse sentido. Reafirma a autonomia da legenda e cobra mudanças, por exemplo, na política econômica.

Enquanto a esquerda ainda não fechou posição sobre a união no segundo turno, líderes do Campo já buscam dissidências no Movimento PT - corrente de centro que apresenta crescimento expressivo, de 8% dos votos em 2001, para algo entre 12% e 13% agora - e na corrente PT de Luta e de Massa, que se dividiu entre Pomar e Berzoini. Maria do Rosário declarou apoio antecipado à oposição no segundo turno, mas integrantes da corrente admitem que podem aderir à candidatura de Berzoini.

Seu adversário pode ser definido ainda hoje, mas o resultado oficial da eleição deve ser divulgado até o fim de semana. Dirigentes de várias correntes comemoraram o quórum estimado, de 248 mil votantes, cerca de 35% dos filiados aptos.