Título: Cúpula do PT ataca os juros, CPIs e a mídia
Autor: Vera Rosa e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2005, Nacional, p. A9

Numa resolução de 13 itens, aprovada ontem por unanimidade, a Executiva Nacional do PT cobrou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais agilidade para reduzir as taxas de juros, liberar verbas do orçamento para programas sociais e promover a distribuição de renda. Um dia depois da eleição para renovação das direções do PT em todo o País, com voto dos filiados, a executiva esboçou reação à crise política e partiu para a ofensiva: além de tentar mostrar autonomia em relação ao governo, atacou PSDB e PFL, a falta de foco das CPIs e o que chamou de "golpismo" da mídia.

O documento culpa tucanos e pefelistas pela eleição do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), envolvido no escândalo do mensalinho e prepara sua renúncia. Ao diagnosticar um "festival denuncista" contra o PT, o texto - redigido pelo presidente do partido, Tarso Genro - critica os "comandantes da eleição de Severino", que, de acordo com a avaliação petista, agiram para derrotar o governo e hoje sequer pedem desculpas por sua "postura irresponsável".

Apesar de admitir "desvios de conduta" em sua trajetória, o PT insiste na tese do complô com a finalidade de excluir o PT do cenário político. A resolução trata com ironia líderes do PSDB e o PFL, que, segundo a Executiva, são ligados aos governos de Fernando Collor e Fernando Henrique e se apresentam agora como "vestais da moralidade" e "novos salvadores da Nação".

Mesmo com a defesa veemente de Lula, a resolução prega novo rumo na política econômica e monetária. "O governo (...), na opinião do partido, deve acelerar a redução das taxas de juros, promover uma ação rápida para acelerar a execução orçamentária e abrir um debate efetivo com os nossos aliados do campo democrático popular sobre o orçamento do próximo ano."

Depois da indicação das urnas de que o Campo Majoritário perderá a hegemonia, o PT deu sinais de autonomia, ainda que muito brandos, em relação ao Planalto. A resolução diz que é preciso ter uma lei orçamentária para impulsionar o crescimento, ampliar a criação de empregos formais e promover investimentos em infra-estrutura e políticas sociais.

A grande crítica, porém, é dirigida à oposição. "Estamos num processo de disputa política, em que muitos torcem para o PT não dar certo", afirmou Tarso. Para ele, é hora de reagir. "Na nossa opinião, o processo crítico já passou dos limites", disse. "Basta qualquer pessoa dizer qualquer coisa sobre o PT que passa a ser verdade."

Logo no início da resolução, a Executiva Nacional observa que é preciso combinar a correção dos erros com a defesa do PT e do governo Lula. "O PT e todos os que defendem a democracia devem reagir ao golpismo midiático que pretende inviabilizar o mandato legítimo do presidente Lula", afirma o documento.

No diagnóstico da cúpula petista, o partido assiste a uma "formidável chantagem pública" e enfrenta processo de manipulação "semelhante àquele que elegeu Collor em 89". A resolução diz ainda que, no governo Fernando Henrique, o PSDB e o PFL levaram o País ao desastre. "O governo FHC (...) conseguiu combinar crescimento nulo, juros altos, inflação alta, aumento da dívida pública, aumento do desemprego e reeleição comprada", afirma o texto.

Para o PT, as CPIs em curso têm um "sentido eleitoreiro" e servem de palco para que os políticos se apresentem como "sacerdotes da moralidade". "É verdade que o PT não adotou mecanismos de controle para combater estes desvios que estavam em nosso meio. Nem por isso é aceitável que os representantes da elite tentem consagrar-se como inocentes perpétuos", diz a resolução. Na avaliação da executiva, a pressa em punir os envolvidos no escândalo do mensalão pode acabar em "pizza de médio prazo". "Duas ou três cabeças rolam e o resto pode permanecer impune, com o sistema de corrupção eleitoral intacto", concluiu Tarso.