Título: Crescimento econômico
Autor: Celso Ming
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2005, Economia & Negócios, p. B2

É estranho que todas as tendências do PT proclamem sua disposição de moralizar o partido, mas, nessa empreitada, ataquem mais a política econômica do ministro Palocci do que as lambanças de conduta comandadas pelo grupo liderado pelo ex-ministro José Dirceu. É estranho por duas razões: porque não cabe responsabilizar Palocci por uma política que não é dele, mas do presidente Lula; e porque, se Lula tem possibilidade de reeleição, ela se deve ao sucesso da política econômica e não a alardeados desastres.

Em todo o caso, todos queremos mais crescimento econômico. Os prováveis 3,5% a 3,9% que acontecerão neste ano não são desprezíveis. Mas é inegável que este país precisa aproveitar as condições que tem para produzir riqueza e distribuí-la.

Não é verdade que os demais países em desenvolvimento estejam crescendo muito mais do que o Brasil. A tabela mostra o que está havendo. Em todo o caso, as condições externas continuam favoráveis, a inflação está sob controle e os juros tendem a cair. Por que não crescer mais?

O Banco Central tem espalhado o conceito de crescimento potencial, que é o tanto que a economia pode avançar sem causar inflação de demanda (alta de preços por causa de procura maior do que oferta). Esse tanto está em torno dos 3,5%. A idéia é a de que alguns setores-chave não têm capacidade de produção e precisam de investimento.

O conceito de crescimento potencial é alvo de forte artilharia. Para o ex-ministro Delfim Netto, o Banco Central chegou a esses 3,5% por um raciocínio enganoso, que ele chama de tarometria. Delfim reconhece que alguns setores exigem investimento, mas critica quem exige que tudo comece com o investimento. "Crescimento é um estado de espírito", diz. "Se houver demanda, o investimento vem naturalmente. Se não há, não sai o investimento." Ele sugere que eventual escassez seja suprida com importações.

Os juros começaram a descer a montanha, talvez em ritmo mais lento do que o desejado, mas começaram. Prevalece estado de espírito mais favorável, como Delfim parece reclamar.

Em princípio, há dois riscos à frente. Um é a doença holandesa (dutch disease). Acontece quando a moeda nacional (no caso, o real) fica excessivamente valorizada em conseqüência da forte exportação de produtos básicos, como aconteceu com o gás natural da Holanda nos anos 70. Desse modo, o empreendedor evita investir porque teme perda de competitividade do produto nacional. O professor Shigeaki Nakano, da Fundação Getúlio Vargas, alerta para isso.

Para evitar essa doença, diz, é preciso derrubar os juros que, por sua vez, deverão provocar desvalorização do real. Para ajudar a derrubar os juros sem provocar inflação, sugere adoção do sistema de déficit nominal zero - o compromisso de que, dentro de certo tempo, o governo pague todos os juros da dívida.

O outro risco é o de que o ajuste da economia americana provoque grande recessão mundial e impeça o avanço. Mas esta é só uma possibilidade. Quando vier, o ajuste externo pode ser suave, como se têm mostrado os ajustes da economia dos países ricos nos últimos 15 anos.