Título: Sucesso de emissões não segura crescimento da dívida
Autor: Thiago Velloso
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

Apesar da crise política, o Tesouro Nacional colocou títulos públicos com tranqüilidade no mercado financeiro nas últimas semanas. "Temos visto que o mercado financeiro está muito dissociado da crise. Não temos problema em cumprir o planejado no mês. Os leilões de títulos públicos estão dentro da normalidade e com boa demanda", afirmou o coordenador da dívida pública, Paulo Valle. Ele divulgou ontem aumento de 0,6%, em agosto, no total da dívida federal em títulos. Ela atingiu R$ 920,79 bilhões, ante R$ 915,67 bilhões em julho. O nervosismo dos investidores com a crise dificultou as emissões de títulos no final de julho e nas duas primeiras semanas de agosto, exigindo mais cautela do Tesouro nos leilões. Mas, segundo Valle, a partir dali o mercado passou a separar a crise política da economia e os leilões voltaram à normalidade. O governo, porém, não conseguiu cumprir a meta de lançar R$ 35 bilhões no mês passado. As emissões novas somaram R$ 27,88 bilhões; os resgates, R$ 35,7 bilhões.

Esse movimento, porém, não reverteu a trajetória de crescimento da dívida interna, provocada principalmente pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em patamar elevado - no mês passado, a Selic estava em 19,75% ao ano. Como mais da metade da dívida tem remuneração determinada por essa taxa, a dívida cresceu forte nos últimos meses. Os resgates não impediram a elevação da dívida, mas contribuíram para desacelerar sua expansão, que no ano já chega a R$ 110,53 bilhões - acréscimo de 13,64% ante o saldo de dezembro de 2004.

Apesar desse crescimento, o governo conseguiu melhorar o perfil da dívida em agosto. A participação dos títulos com rendimento determinado pela taxa Selic, ficou em 55,85% do total, equivalente a R$ 514,22 bilhões. O nível ainda é considerado elevado, mas caiu em relação a julho, quando a participação desses papéis era de 57,32% Por ser sensível às variações da Selic, o governo pretende reduzir a participação desses títulos no endividamento total.

Considerando o estoque atual desses papéis, a redução de 0,25 ponto porcentual nos juros, promovida pelo Banco Central na semana passada, vai representar, se mantida em 12 meses, uma economia de pagamento de juros de R$ 2,9 bilhões. Se a taxa voltar a cair, a economia será ainda maior.

Depois de recuar em julho, a participação dos títulos prefixados subiu, passando de 22,37% para 23,87% do total da dívida, o maior nível da série histórica do Tesouro. Em valor, os prefixados atingiram em agosto R$ 219,79 bilhões. A participação desse tipo de papel, considerado mais favorável à administração da dívida, por ter remuneração determinada no momento da emissão, está dentro do planejado pelo Tesouro, que pretende levar a participação dos prefixados para até 30% do total de títulos públicos, neste ano, no melhor dos cenários com que vem trabalhando.

Os títulos vinculados à variação do dólar chegaram em agosto ao menor índice da série: 4,11%, contra 4,15% no mês anterior. Isso significa que a dívida brasileira está ainda menos vulnerável às taxa de câmbio.