Título: Operação abre mercado externo a empresas
Autor: Thiago Velloso
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

A emissão de títulos da dívida externa em reais deve abrir a porta do mercado de captações em moeda local para empresas brasileiras no exterior. Até agora, apenas grandes bancos do País e a Eletropaulo haviam se aventurado no exterior com a emissão de títulos em reais. A expectativa dos especialistas é que, a partir de agora, companhias ligadas ao setor produtivo passem a considerar esse mercado mais atraente. O primeiro indicativo do aquecimento do mercado já apareceu ontem, com a emissão do Bradesco em reais. A captação deve somar US$ 100 milhões e poderá ser concluída até amanhã. Segundo fontes, a captação foi preparada justamente para aproveitar o momento favorável inaugurado pelo Tesouro Nacional.

O banco havia emitido papéis em dezembro, com taxa de 17,62% e prazo de três anos, e trabalhava ontem com a expectativa de remuneração em torno de 14% para papéis com vencimento em cinco anos.

"Quando o governo brasileiro coloca a placa é, sem dúvida, uma grande sinalização tanto para as empresas quanto para os investidores", afirma Luiz Fernando Resende, vice-presidente de Mercado de Capitais da Associação Brasileira dos Bancos de Investimento (Anbid). Para Resende, além de um forte indicativo de confiança na estabilidade da moeda brasileira e, por conseqüência, da trajetória econômica do País, a emissão do Tesouro ainda deve surtir um efeito significativo sobre o preço dos ativos emitidos no futuro no mercado externo.

"A tendência é que o governo sempre capte com um custo mais baixo, mas certamente o preço para as empresas também deve recuar", diz ele.

Para Alberto Kiraly, diretor-executivo do Banco Espírito Santo, a emissão do Tesouro também abre uma fenda para que grandes empresas de serviço saiam em busca do investidor internacional. "Exportadoras teriam mais facilidades porque têm operações no exterior, mas elas não têm problemas de se endividar em reais. Já grandes companhias de serviço, como telefônicas e de energia elétrica, precisam de financiamento em moeda local e, por isso, podem partir para essa opção do financiamento externo."

O sócio responsável pela área de Mercado de Capitais do Pactual, banco que liderou a operação do Bradesco, Rodolfo Riechert, tem uma visão mais conservadora, apesar de também ver com otimismo a ousadia do Tesouro. "Ainda é mais barato para muitas empresas captar aqui dentro", afirma Riechert, que considera o imposto de renda de 15% ainda um impeditivo para a proliferação das emissões em reais.

Para Mário Mesquita, economista-chefe do banco ABN Amro, a emissão pode ajudar a melhorar a classificação de risco do Brasil. Ele também considerou os termos da emissão muito positivos. "Estive em Londres agora, há um apetite enorme por papéis em real."