Título: PF muda versão do roubo de R$ 2,1 mi
Autor: Clarissa Thomé
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2005, Metrópole, p. C1

Os R$ 2,1 milhões apreendidos pela Operação Caravelas roubados na Superintendência da Polícia Federal no Rio, no fim de semana, não estavam guardados no local informado pela PF anteontem ¿ uma sala-cofre com porta dupla, gradeada, voltada para o saguão interno do prédio. Na verdade, o dinheiro fora deixado numa sala nos fundos do prédio da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), vizinho ao Terminal Rodoviário da Praça Mauá.

O superintendente da PF em exercício, Roberto Prel, autor da versão inicial, disse que os jornalistas é que não entenderam a informação. Pela posição da sala em que estava o dinheiro, os criminosos não precisaram passar pela entrada principal da superintendência nem cruzar um corredor de 40 metros, como foi divulgado.

Eles podem ter subido por uma escada lateral e entrado na sala para pegar o dinheiro. No corredor da DRE que dá acesso à sala, há uma porta para uma sacada, de frente para o terminal, que fica permanentemente aberta.

Os criminosos tiveram de arrombar seis portas, em vez de três, como foi divulgado inicialmente. Toda a DRE ficou lacrada até a realização da perícia. O lacre tinha assinatura de, entre outros policiais, Daniel Gomes Sampaio, superintendente da PF em Brasília, designado pelo diretor-geral Paulo Lacerda para chefiar a apuração do roubo.

Sampaio trouxe de Brasília uma equipe da força de elite da PF, o Comando de Operações Táticas (COT). Os agentes revistaram salas e armários da superintendência. Investigavam a hipótese de o dinheiro ter sido escondido no próprio prédio.

¿Precisamos averiguar todas as possibilidades¿, disse o corregedor Victor Hugo Poubel. Dos 59 policiais afastados de suas funções após o roubo, 20 começaram a ser ouvidos ontem.

O escrivão-chefe, que guardou a chave da sala-cofre no seu armário, disse que a prática era uma praxe e ¿todo o efetivo da DRE tinha conhecimento disso¿. Seu nome não foi divulgado. ¿Quem subtraiu esses valores conhecia as dependências da DRE¿, disse o corregedor. Segundo Poubel, passam por ali, além dos policiais, ¿advogados, testemunhas, jornalistas e funcionários terceirizados¿.

A segurança da caixa-forte da superintendência da PF (identificada inicialmente como a sala-cofre da DRE) foi reforçada. Ali está a cocaína encontrada em peças de carne apreendida na Operação Caravelas. Policiais estão 24 horas de plantão. O acesso ao 4º andar foi interditado.

Dois integrantes da quadrilha flagrada na operação ¿ Rocine Galdino de Souza e Márcio Junqueira de Miranda ¿ foram levados ontem para Goiânia, onde se concentram as investigações.

Os portugueses Antonio dos Santos Damaso e José de Palinhos Jorge Pereira, apontados como líderes do bando, estão na cidade desde segunda-feira.

O filho de Palinhos, Rodrigo, teve a prisão decretada pela Justiça de Goiânia. Em entrevista ao Jornal Nacional, negou envolvimento com o tráfico e prometeu se entregar à polícia.