Título: Ademir se explica em apenas 2 minutos
Autor: Iuri Pitta
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2005, Metrópole, p. C3

Em dois minutos, o vereador Ademir da Guia (sem partido) falou ontem sobre a acusação de que teria retido parte do salário de cinco assessores, conforme denúncia em poder da Corregedoria da Câmara. Ademir poderia ter discursado por até 15 minutos na tribuna da Casa, mas o ex-jogador, abatido como provavelmente nunca se sentiu na carreira futebolística, leu uma breve nota em que disse esperar o 'momento oportuno' para ter acesso aos documentos e se defender. 'Jamais fui beneficiário de qualquer importância indevida', garantiu. Ademir chegou à sessão - a primeira após o surgimento da denúncia - pouco antes de começar o tempo destinado ao discurso. Foi o único momento em que o plenário permaneceu em silêncio para ouvir o orador. Era a primeira vez que o vereador, debutante no Legislativo paulistano, usava a tribuna para se pronunciar.

Mas a expectativa que lembrava a de uma arquibancada acabou sendo frustrada. A economia de palavras deixou claro que o ex-jogador ainda não decidiu qual a melhor forma de reagir às acusações nem recebeu orientação de quem conhece o Legislativo há mais tempo. Coube à nova chefe de gabinete de Ademir, Teresinha Neves, tentar explicar o porquê da defesa sucinta.

¿Ele vai analisar os fatos, chamar os funcionários para entender o que ocorreu¿, disse Teresinha, substituta de Alberto de Moraes, exonerado logo após o surgimento da denúncia. Ela afirmou que o vereador não viu a documentação entregue à presidência da Câmara pelos assessores que o acusam, mas negou qualquer irregularidade. ¿Ele nunca recebeu nada indevidamente.¿

Filiado ao PC do B, legenda da qual Ademir pediu desfiliação na segunda-feira, Moraes foi acusado de estimular os funcionários a apresentarem as acusações à Câmara, o que ele nega. A suspeita alimentou a versão de que os dirigentes municipais do partido foram os principais interessados em trazer o caso a público, abrindo espaço para que a primeira suplente da bancada, a ex-secretária de Esportes Nádia Campeão, assumisse o mandato. O PC do B contesta essa versão.

A amigos e interlocutores, Ademir não culpa o antigo partido pelas denúncias, mas chegou a dizer a alguns que se sente traído. Antes de decidir ler a breve nota, pensou em se apresentar como vítima de armação, mas voltou atrás. O vereador não tinha como sustentar isso e ficaria em situação pior.

A Corregedoria da Câmara ainda não tem data para decidir quem será o relator da denúncia apresentada contra Ademir.