Título: 'Uma mentira atrás da outra'
Autor: João Domingos e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2005, Nacional, p. A5

"Uma mentira atrás da outra." Foi assim que Enivaldo Quadrado, sócio da corretora Bônus Banval, classificou o depoimento do doleiro Antonio Oliveira Claramunt. Quadrado reiterou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não conhece o deputado José Dirceu (PT-SP), apontado como seu "amigo íntimo". E disse também não ter tido qualquer relação com Toninho da Barcelona. "Ele tem de provar", reagiu Quadrado, referindo-se ao doleiro como "presidiário". O elo mais palpável que surgiu até agora entre Dirceu e a corretora foi o nome de Roberto Marques numa lista enviada pelo empresário Marcos Valério para sacar R$ 50 mil. O nome, que foi depois substituído pelo de um funcionário da corretora, coincide com o de um assessor de Dirceu. O deputado nega que se trate da mesma pessoa. Em depoimento à Polícia Federal, no dia 6, Marcos Valério confirmou que Marques, assim como outros que aparecem nas listas, teve o nome indicado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

A corretora negou que tenha feito retirada física de ouro. Segundo ela, isso é tecnicamente impossível: quando um cliente pede, a corretora informa a Bolsa de Mercadorias & Futuros, que comunica o Banco do Brasil, no qual o cliente tem de se identificar e fazer a retirada.

No total, estão sendo investigadas transferências de Marcos Valério para a Bônus Banval de R$ 7,105 milhões. Desses, R$ 6,5 milhões foram depositados por duas empresas que têm Marcos Valério como sócio - a 2S Participações e a Tolentino & Mello Assessoria - na conta que a empresa catarinense Natimar mantinha na Bônus Banval. Por orientação de sua cliente Natimar, alega a Bônus, o dinheiro foi transferido eletronicamente para uma série de pessoas, entre elas a filha do deputado José Janene (PP-PR), Michele, que teria estagiado na corretora, sua secretária, bandas de música, gráficas e a mulher e um filho do doleiro Najun Turner.

Os outros R$ 605 mil foram enviados diretamente de Belo Horizonte pelas duas empresas ligadas a Marcos Valério para a corretora, em três transferências. E repassados em dinheiro para o próprio Marcos Valério e para uma funcionária dele, em São Paulo. Laudo pericial contábil encomendado pela Bônus à Bordin Consultores afirma que as operações foram legais.

Quadrado também nega que tenha conhecido Janene por meio do doleiro Alberto Youssef. Segundo o dono da corretora, o deputado chegou até a Bônus por meio de sua filha Michele. Quadrado lhe falou do desejo de vender a corretora, e o deputado lhe apresentou Valério, como potencial comprador. Ao se aprofundar nos negócios da corretora, Valério, que depois se desinteressou em comprá-la, teria estabelecido relações com a Natimar.