Título: Mentor é acusado de encobrir transações
Autor: João Domingos e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2005, Nacional, p. A5

No depoimento de ontem, o doleiro Toninho da Barcelona acusou o deputado petista José Mentor (SP) de ter impedido seu depoimento à CPI do Banestado para evitar que fossem reveladas operações ilegais do PT envolvendo compra de dólares e remessas para o exterior. Barcelona disse ainda que Mentor conseguiu impedir o depoimento de Paulo Maluf por causa de um suposto acordo entre o ex-prefeito de São Paulo e a então prefeita Marta Suplicy (PT), no segundo turno da campanha municipal do ano passado. O deputado foi à sala da CPI para negar todas as acusações. Mentor era relator da CPI do Banestado, criada no início de 2003 para investigar evasão de divisas, mas marcada pela briga do relator com o presidente, o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT). "O papel do José Mentor começou com a minha não convocação à CPI do Banestado. Acho que houve interferência política. Eu tinha sido convocado pelo senador Antero Paes de Barros", disse Toninho da Barcelona. O doleiro lembrou que tinha feito operações de compra de dólares da corretora Bônus Banval durante a campanha de 2002, para abastecer o PT de dinheiro vivo distribuído por meio de caixa 2. " Mentor tinha receio que aparecesse algum problema do PT e me eliminou", acusou o doleiro.

José Mentor fez questão de ir até a sala da CPI para desmentir Toninho da Barcelona. O deputado argumentou que foi dele a idéia de ouvir "seis ou oito doleiros", mas que pediu a suspensão da convocação porque soube que a Operação Farol da Colina, que os prendeu, estava em curso. Disse que não queria "assustar" os doleiros com a convocação, em abril de 2004.

Sobre o depoimento de Maluf e do doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, um dos responsáveis pelas remessas de Maluf ao exterior, Mentor argumentou que tinha intenção de convocar o ex-prefeito, mas que não conseguiu aprovar na CPI. "Por quatro vezes a CPI do Banestado decidiu sobrestar a convocação do prefeito Paulo Maluf."

O doleiro acredita que Mentor estivesse por trás de sua prisão, na Operação Farol da Colina, da Polícia Federal, e a sua condenação a 25 anos de prisão. "São muitas coincidências que me levam a crer nisso", disse, quando questionado pelo senador César Borges (PFL-BA).

Segundo Toninho, Mentor "protegeu" Birigüi. "Maluf apoiou Marta no segundo turno, por isso ele (Mentor) protegeu Birigüi." Barcelona disse ainda ter sido procurado na cadeia por um advogado, Waldemar Figueiredo Junior, que se dizia emissário de Mentor e queria saber se tinha informações que comprometessem o PT.

No relatório da CPI do Banestado, Mentor não citou as suspeitas sobre o Banco Rural, hoje investigado por simulação de empréstimo ao empresário Marcos Valério, que operou um esquema de caixa 2 ao PT. O petista recebeu R$ 120 mil do esquema de Marcos Valério, mas diz que foi pagamento por serviços de seu escritório de advocacia e está no relatório das CPIs que recomenda abertura de processo de impeachment.