Título: Toninho diz que aliança com Marta poupou Maluf
Autor: João Domingos, Luciana Nunes Leal e Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2005, Nacional, p. A6

O doleiro Antonio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona, levantou a suspeita de que Paulo Maluf e seus doleiros foram protegidos pelo governo e pelo PT por causa da aliança com a ex-prefeita Marta Suplicy, no segundo turno da eleição municipal, em 2004. Ele declarou que foi um erro da CPI do Banestado não ter convocado Maluf e os doleiros Vivaldo Alves, o Birigui, e Richard Andrew de Mol Van Otterloo, que poderiam contribuir com as investigações. De acordo com Barcelona, se tivesse convocado o ex-prefeito e os doleiros, a CPI do Banestado poderia ter esclarecido as contas que Maluf tem no exterior. Ele afirmou que Maluf - preso há 11 dias em São Paulo sob acusação de corrupção passiva, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e evasão de divisas -, teria US$ 165 milhões nas Ilhas Virgens Britânicas e US$ 600 milhões na Ilha Jersey, paraíso fiscal do Canal da Mancha.

Barcelona, condenado a 25 anos de prisão - sob acusação de lavagem de capitais, evasão fiscal e quadrilha -, contou aos parlamentares que Birigüi o teria procurado para perguntar se já sabia que seria convocado a depor na CPI do Banestado. "Achei isso estranho, porque a informação veio de um doleiro", disse Barcelona.

Richard Otterloo tem algo em comum com Maluf, que hoje será interrogado na Justiça Federal no processo sobre a conta Chanani, do Safra National Bank de Nova York. A conta foi operada pelo doleiro Birigüi. Segundo a Procuradoria da República e a Polícia Federal, Maluf e seu filho mais velho, Flávio, que também está preso, teriam tentado ocultar provas e intimidado testemunha. Maluf nega os crimes atribuídos a ele. "Birigüi é o bandido, ele é o dono da conta Chanani", reage o ex-prefeito.

JAZZ

Investigação da Procuradoria e do Ministério Público Estadual revela que Richard Oterloo operou a conta Jazz, no MTB Bank de Nova York. A Jazz foi uma das principais abastecedoras da Chanani, da qual Maluf foi o maior beneficiário, segundo a Polícia Federal.

A Chanani movimentou US$ 161 milhões - a maior parte desse montante saiu da Jazz. Rastreamento da Promotoria Distrital de Manhattan indica créditos da Jazz para a Chanani que variavam de US$ 700 mil a US$ 3 milhões. A Jazz, número 030.171.954, foi aberta em 28 de março de 1997, por Oterloo e seu sócio Raul Srour, apenas 3 meses depois que Maluf deixou a Prefeitura. A conta foi mantida no MTB Bank de Nova York . Fechado pelo governo americano, o MTB virou Hudson United Bank .

Srour e Otterloo são controladores da Apolo Turismo e da Avenca Turismo, sediadas em São Paulo. A Avenca foi substituída pela KLT Turismo e Viagem Ltda, em junho de 2005. Birigüi declarou à PF que, entre 1993 e 1996 (período do mandato de Maluf), manteve "acordo operacional" com as agências de Srour e Otterloo.

Os dois operadores da conta Jazz serão intimados pela Promotoria de Justiça da Cidadania e pelo Ministério Público Federal. " Eles também movimentaram quantias vultosas no MTB", anotou o procurador da República Vladimir Aras, que rastreia movimentações ilícitas . "São muitos lançamentos, a Jazz pode ter sido a principal abastecedora da Chanani", destacou o promotor da Cidadania Silvio Antonio Marques, maior algoz de Maluf. "São milhões de dólares, muitos milhões."

Ontem, os advogados de Maluf pediram à Justiça adiamento do interrogatório do ex-prefeito. Os criminalistas José Roberto Leal de Carvalho e José Roberto Batochio alegaram que não tiveram acesso a todos os CDs com gravações telefônicas captadas pela Polícia Federal durante a investigação sobre a Chanani. O pedido foi negado.