Título: PSDB e PFL fecham acordo para eleger Nonô
Autor: Tânia Monteiro e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2005, Nacional, p. A8

PSDB e PFL consolidaram ontem uma aliança em torno do deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), vice-presidente da Câmara, para suceder Severino Cavalcanti (PP-PE) na presidência da Casa, que deverá renunciar ao mandato hoje. Na noite de segunda-feira, parlamentares do PFL se reuniram na casa do senador José Jorge (PFL-PE) e fecharam o apoio a Nonô. Ontem, a aliança com o PSDB foi selada num almoço com líderes dos dois partidos. Por conta disso, o PSDB já aceitou abrir mão da pré-candidatura do deputado Jutahy Júnior (BA), aceitando centrar suas forças na opção mais forte por Nonô. "Será difícil para o PSDB e o PT ter o presidente da Câmara porque os dois partidos têm nitidamente um projeto de poder", afirmou Jutahy.

"PFL e PSDB terão um candidato comum. Se as duas bancadas votarem fechadas nesse nome, o que deve acontecer, já são 110 votos", confirmou o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).

Nonô ganhou ontem, também, o apoio do PPS para suceder Severino. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), defendeu, ao manifestar o apoio ao pefelista, a destinação do cargo de vice-presidente, ocupado atualmente por Nonô, a um deputado do PT, já que este partido está fora da atual composição da Mesa da Câmara, desde que o petista Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) foi derrotado por Severino na disputa pelo cargo.

Os pefelistas avaliam que Nonô tem plenas condições de comandar a Câmara e revitalizar sua imagem, depois da crise institucional provocada pelas denúncias de que Severino teria cobrado propina para permitir que o empresário Sebastião Buani tivesse renovado o contrato de funcionamento do seu restaurante na Casa.

"Vai ser um novo Nonô na presidência e não um líder da oposição", argumentou José Jorge, referindo-se ao fato de Nonô ter sido líder da oposição no ano passado e já ensaiando um discurso para diminuir as resistências ao nome do deputado entre os aliados do governo.

PFL e PSDB admitem negociar o cargo de vice de Nonô com o PMDB, ou pelo menos com a parte da sigla ligada ao presidente do partido, Michel Temer (SP), que tem o seu nome na disputa. O PMDB já ocupa a presidência do Senado com Renan Calheiros (AL). No xadrez dos cargos, a negociação da vice-presidência será uma boa moeda de troca para o PFL, que quer eleger Nonô.

LIBERADO

Nonô poderá disputar no cargo a cadeira do titular, que ocupará interinamente a partir da renúncia de Severino. Consulta feita pelo PFL à assessoria jurídica da Casa dá conta de que não existe impedimento para que Nonô participe da corrida sucessória sem ter de se afastar da vice-presidência. Dizem os assessores que, no caso de ele sair vitorioso da disputa, só teria de renunciar ao cargo que ocupa hoje antes da posse.

Para responder à consulta dos pefelistas, a assessoria da Câmara tomou por base disputas anteriores e considerou haver jurisprudência firmada pelo então presidente, deputado Michel Temer.

Candidato à reeleição em 1999, Temer permaneceu no exercício do cargo, praticando inclusive todos os atos preparatórios do pleito. Ele não só recebeu o registro de candidaturas, como esclareceu questões de ordem e fixou o calendário da disputa, ouvidos os líderes e candidatos. Absteve-se apenas de presidir a sessão em que concorreu à reeleição.