Título: Genu enfim depõe, mas diz pouco
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2005, Nacional, p. A9

Em depoimento evasivo e contraditório, João Cláudio Genu, assessor do deputado José Janene (PP-PR), admitiu ontem à CPI do Mensalão que esteve "várias vezes" nas sedes da Petrobrás, do IRB e de Furnas, estatais onde o partido detinha indicações políticas em cargos-chave. Genu disse não se lembrar do objetivo das "visitas" nem do número de vezes que foi as estatais. Mas afirmou que as missões aconteciam por orientação de Janene. Chupando balas e distribuindo sorrisos irônicos, Genu falou durante três horas, mas pouco disse. Ele se enrolou ao explicar os valores que sacou da conta da agência SMPB, do empresário Marcos Valério de Souza, no Banco Rural. "Saquei R$ 700 mil." Logo depois, afirmou não ter certeza do valor. "Os envelopes estavam lacrados, não tinha como saber ao certo quanto tinha dentro." Segundo a CPI dos Correios, Genu sacou pelo menos R$ 4,1 milhões. Questionado se podia garantir não ter sacado esse montante, foi seco. "Realmente não posso."

O assessor se complicou até mesmo para explicar o número de vezes que foi à agência do Rural em Brasília. Ele afirmou que se dirigiu apenas três vezes ao banco: duas em setembro de 2003 e outra em janeiro de 2004. Mas os registros do Brasília Shopping, onde fica o Rural, mostram que Genu esteve no banco também em 14 de janeiro e uma semana depois, no dia 21.

Apesar de ser confrontado com os registros do shopping e o recibo do banco, ele manteve a versão. "O sr. está faltando com a verdade", irritou-se o deputado João Correia (PMDB-AC). O assessor ficou calado.

Genu também se contradisse sobre as relações dele com Victor Hugo Travassos, diretor da Anvisa indicado pelo PP. Primeiro, garantiu que não conhecia ele. Minutos depois, questionado pela deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), voltou atrás. "É, posso ter tido contatos telefônicos com o diretor, mas apenas a pedido de Janene."

Ele admitiu ter visto Valério duas vezes no gabinete de Janene, mas disse não saber as razões dos encontros. Genu disse ainda que "acompanhava" o líder do PP em "visitas" à sede da corretora Bônus-Banval. "Janene tem uma filha que trabalha na corretora." À PF, Valério disse que teve reuniões com Genu e Janene na corretora, para definir repasses ao PP.