Título: EUA querem dar imunidade ao papa
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2005, Vida&, p. A19

O governo dos Estados Unidos quer que um tribunal do Texas garanta imunidade ao papa Bento XVI, envolvido em processo judicial em que é acusado de conspirar para encobrir crimes sexuais cometidos por um seminarista contra três crianças, em meados nos anos 90. O subsecretário de Justiça dos EUA, Peter Keisler, apresentou na segunda-feira o pedido de imunidade a Bento XVI, alegando que, como chefe de Estado do Vaticano, o papa tem direito a tal recurso e que a continuação do processo seria "incompatível com os interesses de política externa dos EUA".

Na época dos crimes, Bento XVI ainda era o cardeal Joseph Ratzinger e foi citado como réu no processo movido pelos três jovens que acusam o seminarista colombiano Juan Carlos Pati¿o Arango de tê-los molestado sexualmente. Ele trabalhava na paróquia de São Francisco de Sales, em Houston, e participava de sessões de aconselhamento psicopedagógico na igreja. Após as denúncias, ele desapareceu e, hoje, é considerado um fugitivo da Justiça.

Até agora não há um veredito formal do juiz que preside o caso, Lee Rosenthal, do tribunal distrital do sul do Texas, em Houston. Mas, a Corte Suprema já indicou que os tribunais americanos estão obrigados a aceitar o pedido de imunidade apresentado pelo governo, segundo documento assinado por Keisler.

Um processo movido contra o papa João Paulo II, em 1994, foi arquivado depois que procuradores entraram com pedido igual de imunidade, abrindo um precedente.

No processo movido contra Ratzinger, além de constar a acusação de que ele teria ajudado a ocultar o crime, há também informações de que ele teria ajudado Pati¿o Arango a fugir da Justiça.

A documentação do caso cita como prova uma carta enviada por Ratzinger em 18 de maio de 2001, escrita em latim e enviada para bispos de todo o mundo, onde ele diz que "graves" crimes, como o abuso sexual de menores, deveriam ser repassados para que a Congregação para a Doutrina da Fé, instituição que substituiu o Tribunal da Santa Inquisição, da qual Ratzinger era prefeito antes de tornar-se papa.

Na carta, Ratzinger também diz que a organização iria realizar os procedimentos necessários nesses casos - classificados como "segredos pontificais" - incluindo a formação de tribunais da Igreja.

Daniel Shea, advogado de um dos três acusadores, reforçou que manter casos assim como "segredo" representa uma conspiração para encobrir os crimes.