Título: Brasil é visto como caso à parte
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

Uma das sociedades mais desiguais do planeta, o Brasil mereceu um exame à parte no relatório sobre Eqüidade e Desenvolvimento divulgado ontem pelo Banco Mundial (Bird), que teve entre seus autores o brasileiro Francisco Ferreira. Um exame da composição da renda do brasileiro por várias gerações revelou que quatro variáveis relacionadas com a origem social dos indivíduos - nível de escolaridade dos pais, ocupação do pai, raça e região de nascimento - representam mais de um quinto da desigualdade num grupo do mesmo sexo.

Dos quatro fatores, a origem familiar é o de maior peso e limita também as oportunidades de acesso à educação. 'Raça, região de origem, educação e ocupação do pai continuam a determinar o nível de educação de um indivíduo', informa o estudo.

'E, mesmo em educação, há mecanismos que reproduzem os níveis de escolaridade por várias gerações, especialmente nas faixas mais baixas.' 'Neste estudo e em anteriores, descrevemos o Brasil como um estado do bem-estar social truncado, no sentido de que foi muito bom em cobrar impostos do povo, mas distribuiu apenas entre os ricos', disse Ferreira. ''Onde falhamos no Brasil é não gastar nas coisas que os pobres mais precisam (para ter mais oportunidades).'

Um exemplo está na fonte de desigualdade social em que se transformou a universidade pública gratuita no País. 'A relação do gasto público em educação universitária e primária é três ou quatro vezes maior no Brasil do que, por exemplo, na Coréia do Sul.

Isso significa que subsidiamos a educação de pessoas ricas que foram a escolas privadas e agora estudam em universidade públicas, em lugar de subsidiar a educação fundamental dos pobres.' Ferreira reconheceu que o País tem feito progressos no ataque ao problema com programas como Bolsa Escola, no governo Fernando Henrique, e Bolsa Família, no governo Lula. 'Mas é um progresso pequeno quando comparado com a natureza do problema', disse Ferreira.

Segundo o economista, 'o País tem ainda um longo caminho a percorrer no uso dos poderes distributivos do Estado para dar oportunidades aos pobres'.