Título: Em 10 anos, crédito ao consumo cresce 340%
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

O volume de crédito destinado ao consumo cresceu 340% nos últimos dez anos, saltando de R$ 31,4 bilhões para R$ 138,4 bilhões em julho. Só no governo Lula, os empréstimos e financiamentos avançaram R$ 48,3 bilhões, aumento de 54% ou média de 18% ao ano, revela levantamento feito pela consultoria Partner Conhecimento, apresentado ontem, em São Paulo, durante o Congresso de Cartões de Crédito ao Consumidor. Segundo o trabalho, hoje o saldo dos empréstimos (cheque especial, crédito pessoal, cartão de crédito e financiamento de bens, entre outros) já representa 7,2% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 2,4% em 1995, quando a cultura de emprestar dinheiro ainda era bastante restrita por causa dos altos índices de inflação. Apesar do ritmo acelerado, o crédito ao consumidor ainda está distante do ideal. No Chile, por exemplo, esse tipo de empréstimo corresponde a 9,5% do PIB e nos Estados Unidos, a 17,4%.

Uma das explicações para a baixa participação do crédito brasileiro em relação à suas riquezas é o alto patamar dos juros. Embora a Selic esteja em 19,5% ao ano, as taxas praticadas no mercado podem chegar a 280% em algumas linhas, como é caso do empréstimo pessoal concedido pelas financeiras, segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Até mesmo no crédito pessoal, mais barato comparado aos demais, as taxas são bastante salgadas, em média de 51,99% ao ano.

Além disso, durante muito tempo as instituições financeiras preferiam investir o dinheiro em títulos do governo, que tinham retorno garantido e sem grandes riscos, a emprestar ao consumidor, cujo índice de inadimplência era alto. Mas, com a retomada da economia, muitos bancos voltaram suas atenções para o crédito e elevaram o volume de suas carteiras para não perder espaço no mercado. Isso sem contar o sucesso do empréstimo com desconto em folha de pagamento (consignado), um dos grandes responsáveis pelo aumento do crédito no País nos últimos meses, que já representa 34% do crédito para pessoa física.

Até agora, a modalidade de empréstimo que mais elevou sua participação no mercado foi o crédito pessoal (que inclui o consignado): de 34% em 2000 para 41,4% neste ano. No cartão de crédito, houve aumento de 5,8% para 7,3%. Já o cheque especial foi a modalidade que mais perdeu terreno entre os consumidores. Sua fatia de participação no saldo de crédito encolheu de 13,5% para 8,4%. Uma redução explicada pela exorbitantes taxas de juros, na casa de 160% ao ano. Mas o financiamento de veículo também recuou, de 32,4% para 31,6%.

De acordo com o sócio-diretor da Partner, Álvaro Musa, apesar do forte crescimento nos últimos anos, a inadimplência no crédito ao consumo caiu. "Em maio de 2002, os créditos vencidos há mais de 90 dias atingiram o pico de 13%. Hoje, o porcentual está em 5,8%", afirmou ele. Isso se deve a vários fatores, como a estabilidade econômica e a criação do crédito consignado, que tem inadimplência próxima de zero e contribui para melhorar o perfil de toda a base.

Segundo ele, a expectativa é que nos próximos cinco anos o saldo do crédito ao consumidor salte para R$ 229 bilhões, um aumento de 65%. Até 2015, a projeção é atingir R$ 312 bilhões, o que representaria 12% do PIB. As previsões levam em consideração um cenário de crescimento econômico na casa de 4% ao ano.

Segundo especialistas, um dos fatores que podem contribuir para o aumento da oferta de crédito no País é a aprovação do cadastro positivo de clientes do sistema financeiro, que está no Congresso Nacional. Além disso, poderá reduzir a taxa de juros cobradas do consumidor. "O cadastro permitirá um cálculo mais seguro do risco do tomador de crédito, reduzindo os juros para os bons clientes", afirmou o presidente da Serasa, Elcio de Lucca, sem arriscar previsões para a possível queda das taxas.

"A concessão de crédito se tornará mais eficiente, o que contribuirá para diminuir os custos do negócio", diz Musa. O economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo, Marcel Solimeo, lembra que em outros países que adotaram esse sistema a oferta de crédito aumentou consideravelmente. Com isso, os juros caíram.