Título: Astrônomos propõem novo conceito de planeta
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Vida&, p. A18

O debate sobre a classificação de planetas no sistema solar parece estar chegando a um momento decisivo. Até o fim do mês, a União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês) deverá receber o relatório de um grupo de trabalho criado para reavaliar a denominação de Plutão e outros objetos distantes recentemente descobertos além da órbita de Netuno. Segundo reportagem publicada pela revista Nature, a proposta dos cientistas é derrubar o uso do termo ¿planeta¿, a não ser que ele seja acompanhado de uma segunda classificação.

Nesse caso, o sistema solar passaria a ter no mínimo dez planetas. Os quatro primeiros ¿ Mercúrio, Vênus, Terra e Marte ¿ continuariam a ser classificados como planetas terrestres ou rochosos. Os quatro seguintes ¿ Júpiter, Saturno, Urano e Netuno ¿ continuariam a ser chamados de gigantes gasosos, enquanto Plutão e outros objetos maiores da periferia solar passariam a ser chamados de planetas transnetunianos ¿ ou seja, localizados além da órbita de Netuno.

O último grupo já incluiria o astro de codinome 2003 UB313, descoberto a 14 bilhões de quilômetros da Terra e apelidado de ¿o décimo planeta¿, por ter diâmetro maior ou igual ao de Plutão.

¿Se vamos usar a palavra planeta, deveríamos colocar um adjetivo ao lado dela¿, disse à Nature o astrônomo Brian Marsden, pesquisador do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics e membro do grupo que avalia o assunto.

O projeto está passando por uma revisão final e deverá ser submetido à IAU nas próximas duas semanas, segundo o coordenador do comitê, Iwan Williams.

A proposta seria uma forma de manter a classificação histórica de Plutão como planeta, sem entrar em conflito com a descrição científica dos outros oito astros.

O problema é que eles são objetos bastante diferentes. Em 1930, no ano de sua descoberta, era natural que Plutão fosse classificado como planeta.

Hoje, entretanto, muitos astrônomos argumentam que ele se parece muito mais com um objeto do Cinturão de Kuiper ¿ um anel de pedregulhos gelados que orbitam pela periferia do sistema. A diferença é que alguns são grandes o suficiente para desenvolver forma esférica, como a dos planetas.

A discussão ficou ainda mais polêmica ¿ e urgente ¿ após a descoberta do UB 313. Os cientistas ainda não sabem seu diâmetro exato, mas se ele é maior do que Plutão (como eles acreditam), então deveria também ser classificado como planeta.

¿Ou os dois são planetas ou não são planetas¿, disse ao Estado, na ocasião, o pesquisador Mike Brown, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), responsável pela descoberta.

Ele está esta semana no Observatório Keck, no Havaí, para fazer novas observações do suposto planeta e, por isso, não foi encontrado para comentar a proposta.

Pelo menos um dos pesquisadores do grupo de trabalho citados pela Nature fez ressalvas ao texto do projeto.

¿Não acredito que devamos classificar os tipos planetários com base em sua localização. Deveríamos usar como guia as propriedades do objeto¿, disse Alan Stern, do Southwest Research Institute de Boulder, no Colorado.

Para ele, Plutão e UB 313 deveriam ser chamados de ¿anões de gelo¿.

O astrônomo Enos Picazzio, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), também prefere uma classificação por característica.

¿Vista de longe, uma jaguatirica pode ser confundida com um filhote de onça¿, disse. ¿Ainda não temos instrumentação potente o suficiente para vasculhar a região transnetuniana a ponto de classificarmos os corpos ali presentes em termos de distribuição espacial e composição química.¿