Título: Na terra natal, festa com queima de fogos
Autor: Ana Paula Scinocca e Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Nacional, p. A5

Uma queima de 11 mil fogos de artifício, no Alto do Cruzeiro, um dos pontos mais altos da cidade de João Alfredo, expressou a alegria dos adversários do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti com sua renúncia. No centro da cidade, cerca de 100 pessoas acompanharam na pizzaria "Sabor em Pedaço" o discurso de Severino, vaiando-o pelo menos quatro vezes. A derrocada do filho mais ilustre de João Alfredo estava representada numa placa, na entrada da cidade, caída para o lado - que dizia "sejam bem-vindos à terra de Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados"

"Já vai tarde", "pega o beco" gritavam os mais exaltados, especialmente quando ele dizia que era inocente, que está mais pobre, foi injustiçado e agora vai voltar para a terra natal.

"Ele é uma vergonha nacional", afirmou Maviael Veloso, 36 anos, que diz ter sofrido calote de R$ 24 mil (recebeu dois cheques sem fundos de R$ 12 mil) e mais R$ 31 mil em promissórias em 1996. Depois de dois anos recebeu parte do débito (R$ 23mil) em "jóias preciosas", que descobriu serem falsas. "A renúncia é pouco. Ele devia ser cassado e ir para a cadeia", reagiu. Maviael é motorista de ambulância do hospital local.

Acuados, os aliados do ex-deputado se recolheram. Uma corrente de oração escrita pela professora Paula França, 30 anos, pedindo proteção divina para ele, da qual foram distribuídas 2 mil cópias, pararam de circular. Jaqueline Maria de Lima, 18 anos, estava decepcionada: "Dei meu primeiro voto a ele, porque tinha certeza que era uma pessoa que nunca roubaria, mas ele roubou".

RECUPERAÇÃO

Os que confiam na inocência de Severino já esperam a próxima eleição. "Ele não merecia isso João Alfredo sai perdendo", disse Antonio Ferreira da Silva, 38 anos, agricultor. Eleitor de Zito (como é chamado Severino na região), ele garantiu que se o ex-deputado se candidatar "não dará outro". Edmílson Chaves, eletricista, confirmou: "Aqui é primeiro Deus e segundo o deputado Zito".

Antonio Carlos da Silva, assessor da prefeita Maria Sebastiana Conceição (PFL) qualifica os apoiadores de Severino como "fanáticos que parecem seguir uma seita". Ela recomendou que não se fizesse nenhuma manifestação contra ele, para evitar problemas.

"O povo de Zito é capaz de pegar briga, de fazer como os homens-bomba", justificou um primo do ex-presidente da Câmara, o ex-vereador Josué Ferreira Cavalcanti, 42 anos.

Os velhinhos nas calçadas, chapéu na cabeça, preferem não se envolver. "Se ele está pagando é porque está devendo, ninguém paga sem dever", disse Manoel Soares Cordeiro, 69 anos. E José Quarino de Souza, 70 anos, afirmou ser analfabeto, mas ter consciência do que é errado. "Não voto nele,nem me vendo, nem me troco."