Título: Nonô e Temer lutam por sucessão
Autor: Ana Paula Scinocca e Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Nacional, p. A5

A corrida sucessória pela presidência da Câmara começou oficialmente ontem, antes mesmo do discurso de renúncia do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). Informado logo cedo de que ele renunciaria às 16h, o primeiro vice-presidente, José Thomaz Nonô (PFL-AL), deu a largada na articulação de sua candidatura. Telefonou ao líder do PT, Henrique Fontana (RS), e pediu que marcasse uma conversa para tratar de sucessão, em que formalizará a proposta de parceria em torno de seu nome para presidente, abrindo a primeira vice ao PT, que está fora da Mesa Diretora. Dividido entre quatro candidaturas - Sigmaringa Seixas (DF), Paulo Delgado (MG), Arlindo Chinaglia (SP) e José Eduardo Cardozo (SP) -, o PT reproduz o racha interno que levou à vitória de Severino em fevereiro.

Como um consenso na bancada petista é considerado pouco provável e a cada dia surge um novo candidato nos partidos da base - o PP lançou ontem Francisco Dornelles (MG) -, os pefelistas têm a esperança de que o PT aceite Nonô e a primeira vice como prêmio de consolação.

É tudo o que o PMDB não quer. Além de encarregar o deputado Delfim Netto (PMDB-SP) de convencer o presidente Lula de que o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), é um nome confiável para presidir a Câmara, a cúpula do PMDB resolveu dar uma demonstração de que o racha interno entre governistas e adversários do Planalto é coisa do passado. Em almoço na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ficou decidido que a bancada de 87 deputados se reuniria às 19h para dar uma demonstração de unidade e fechar o apoio integral à candidatura Temer.

CONCENTRAÇÃO DE PODER

Amigo do coordenador político do governo, Jaques Wagner, o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) é outro que tem insistido na tese de que Temer é um nome confiável pelo perfil sereno e a experiência de quem já presidiu a Câmara por dois mandatos. Mas o PFL trabalha com discurso oposto e também já procurou o ministro Jaques Wagner para defender o nome de Nonô e alertar para o "perigo" de concentrar tanto poder nas mãos do PMDB. O partido já comanda o Senado e tem a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), com o ex-deputado Nelson Jobim.

"O governo não dará tanto poder ao PMDB por uma razão: sabe que, com o PFL, a presidência da Câmara terá custo zero para o governo e, com o PMDB, sairá caríssimo", aposta o vice-presidente do PFL, senador José Jorge (PE).

Para ele, o PMDB "cobraria do governo um preço muito alto, que cresceria em proporções geométricas à medida que controlasse a Câmara". Bem diferente do PFL, prossegue José Jorge, ao lembrar que, até por estar na oposição, seu partido não exigiria cargos para aprovar projetos.