Título: Discurso acaba sem aplausos e tumulto começa nas galerias
Autor: Ana Paula Scinocca e Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Nacional, p. A5

Acabou em pancadaria a sessão de renúncia de Severino Cavalcanti (PP-PE). Um grito vindo das galerias pôs fim ao silêncio que se seguiu ao discurso de despedida do presidente da Câmara. "Vai embora, Severino!", berrou a professora de sociologia Wilma Pessoa, de 44 anos, funcionária da Universidade Federal Fluminense. Foi a senha para o início do tumulto entre seguranças e 20 estudantes que acompanhavam a sessão. O confronto terminou com pelo menos três universitários feridos e um vidro quebrado. A atitude da professora encorajou estudantes nas galerias que começaram a gritar: "Nem mensalinho/Nem mensalão/Queremos mais verbas para a educação". Os universitários estenderam ainda uma faixa que pedia mais concursos públicos para professores e servidores.

Orientados pelo presidente em exercício da Câmara, deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), a esvaziar as galerias, os seguranças partiram para cima dos estudantes e arrancaram a faixa deles. Os manifestantes revidaram. Entre os seguranças, havia um sem crachá apontado pelos universitários como o mais agressivo. Ele deu chutes e pontapés em vários deles e partiu para o confronto com jornalistas que registravam a cena. Mais tarde, foi identificado como Cleto Aparecido.

Durante o confronto, ele disse que a "manifestação estava proibida" e havia apenas retirado a faixa. "Estava cumprindo o meu dever", afirmou. A Assessoria de Comunicação da Câmara afirmou que "os seguranças receberam a determinação de esvaziar as galerias e não houve intenção de agredir ninguém".

Houve também tumulto do lado de fora, quando outros universitários - pouco mais de 100, a maioria da Universidade de Brasília - também discutiam com seguranças da Casa, que não permitiram que entrassem no Congresso.

Um dos feridos, o estudante de pedagogia da UNB Dimitri Assis Silveira, de 23 anos, reclamou da ação da segurança da Câmara. Com um corte na mão, disse que houve truculência. "Queríamos fazer manifestação pacífica. Mas eles vieram com uma violência enorme."

Outro estudante ferido - com um corte no braço e suspeita de fratura -, Guilherme Pamplona, de 21, aluno de educação física da UNB, também reclamou. "Não viemos para provocar ninguém, nem o Severino. Não havia necessidade disso." Ele afirmou que, assim que foi retirado da galeria, foi trancado por seguranças em uma sala com outros alunos. Os universitários foram liberados em seguida, após a intervenção dos deputados Walter Pinheiro (PT-BA), João Alfredo (sem partido-CE) e Eduardo Campos (PSB-PE).