Título: Dantas diz que bancou despesas do filho de Lula
Autor: Eugênia Lopes, Luciana Nunes Leal e Irany Teresa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Nacional, p. A9

No depoimento ontem às CPIs dos Correios e do Mensalão, o banqueiro Daniel Dantas admitiu ter tentado comprar participação na Gamecorp, produtora de vídeos sobre jogos eletrônicos que tem entre seus sócios Fábio Lula da Silva, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O preço pedido pela Gamecorp foi considerado alto pela Brasil Telecom, da qual o Banco Opportunity, de Daniel Dantas, é um dos sócios. A negociação acabou sendo fechada com a Telemar, por R$ 5 milhões. O banqueiro contou, também, que a Brasil Telecom pagou despesas com refeições em viagem feita por Fábio Lula ao Japão para a compra de novas tecnologias. "Mas quem pagou as passagens foi o próprio filho do presidente Lula. Ele tem os comprovantes disso. A Brasil Telecom pagou alguns almoços e jantares para o filho do presidente", ressaltou o banqueiro. "Não sei se a hospedagem foi paga pela Brasil Telecom."

Ao garantir que nunca se encontrou com o filho de Lula, Dantas alegou que a direção do Opportunity só teve conhecimento dos contatos com a Gamecorp após o fim das negociações. Explicou que o valor em negociação era inferior ao que precisaria passar pela aprovação do conselho do grupo.

CONTATO

"Houve extensa negociação da Gamecorp com a Brasil Telecom. Mas o preço pretendido era alto", afirmou Dantas, sem mencionar o valor. O presidente da Brasil Telecom, Yon Moreira da Silva, seria o responsável direto pelas negociações.

A Telemar, concorrente da Brasil Telecom, acabou comprando 35% das ações da empresa de Fábio Lula e pagou pela transação R$ 5 milhões, em janeiro. Foram R$ 2,5 milhões para a compra de 35% das ações da Gamecorp e outros R$ 2,5 milhões para adquirir com exclusividade os serviços da empresa.

Segundo confidenciou a interlocutores, Dantas suspeita que pesou contra a proposta da Brasil Telecom o fato de ele ser um dos sócios. Dantas tem desafetos no governo, entre eles o ex-ministro Luiz Gushiken.

A compra das ações, feita em 6 de janeiro, foi aprovada 20 dias depois pelo conselho da Telemar, que tem entre seus principais acionistas o BNDES.