Título: Dirceu diz ter certeza de que será inocentado
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Nacional, p. A10

O deputado e ex-ministro José Dirceu (PT-SP) garantiu ontem que não renunciará ao mandato e vai até o final do processo de cassação se declarando inocente das acusações feitas pelas CPIs dos Correios e do Mensalão. "Não estou interessado e desconheço a existência de um acordo. Todo mundo sabe que não vou renunciar e a Câmara vai me inocentar", disse o parlamentar, depois de prestar depoimento à Corregedoria-Geral da Câmara. "Não há provas do que o (ex-deputado) Roberto Jefferson falou contra mim, a não ser que queiram me cassar pelo que eu represento." Dirceu chegou a sugerir que a sua cassação, se aprovada, seria um ato ditatorial, à revelia do Estado de Direito. "Não sou réu confesso como o Jefferson. Todo julgamento político tem de ter provas, senão estamos na ditadura."

Dirceu disse que os relatores das CPIs tentaram criar provas artificialmente, atribuindo às testemunhas afirmações que não teriam sido feitas. "Colocaram na boca do Marcos Valério e da Renilda Souza afirmações que nunca fizeram", garantiu ele, dando como exemplo três supostas afirmações do casal que balizaram o pedido de cassação, como a de que o ex-ministro sabia dos empréstimos no Banco Rural e no BMG para encobrir caixa 2 e propina.

"Ele (Valério) nunca disse isso. Ele disse que o senhor Delúbio Soares havia afirmado que os empréstimos eram do meu conhecimento, e o Delúbio nega isso", argumentou.

O ex-ministro admite que recebeu representantes dos dois bancos em audiências, mas nega qualquer relação entre esses encontros e o esquema de Delúbio e Valério. Mais do que isso: nega que tivesse qualquer conhecimento de que parlamentares do PT e de outros partidos aliados retirassem dinheiro nas agências do Rural.

Para Dirceu, a CPI nem sequer provou o mensalão. Tudo se restringiria, segundo ele, a um mero esquema de caixa 2, mas nem disso ele admite conhecimento. "Eu não era membro do Diretório Nacional, não acompanhava as finanças do partido. Aquilo que sou responsável eu assumo. Por aquilo que não sou, não." Baseado nessas declarações, ele pediu o arquivamento do processo.

RETIRADA

O PTB protocolou ontem no Conselho de Ética pedido de retirada das representações contra Dirceu e o líder do PL, Sandro Mabel. A justificativa: os elementos colhidos pelas CPIs são mais amplos e "originários de procedimentos de apuração mais eficazes". O Conselho, porém, vai manter os processos.